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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Prunus persica, lenda de menino e a gralha

reino: Plantae
classe: angiospérmicas
ordem: rosales
Família: Rosaceae
Género: Prunus
sub-género: Amygdalus
nome comum: Pessegueiro

Há uma música, de Rui Veloso, letra de Carlos Tê, que evoca a lenda que vou escrever. A música ficou intimamente ligada à Ilha do Pessegueiro e a Porto Côvo. Um dos locais mais bonitos da costa Portuguesa. Ao ouvir a música, "o visir de Odemira, que dizem, por amor se matou novo", oferece-nos um imaginário convencional. Um príncipe mouro, uma jovem donzela cristã, um amor impossível e o jovem põe término à vida. Qual Romeu e Julieta.

No entanto a lenda conta outra história.
Há muitos anos atrás, um capitão Mouro chegou à Ilha do Pessegueiro com um único propósito: Vencer os Cristãos. Para isso treinava soldados e liderava-os no campo de batalha. Era um homem forte, hábil e corajoso, porém, duro, teimoso e orgulhoso. Por vezes quanto maior a paixão de um homem sobre uma actividade, um objecto, um animal, qualquer coisa, quando nada se torna numa obssessão, mais afasta os seus mais amados. Que deviam ser os primeiros.
E nesta obssessão de vitória, o Capitão obrigava o seu filho a ver os treinos, a conhecer golpes, armas e estratégias. Mas era demasiado rígido, pouco sensível, demasiado distante dos reais interesses da criança. O pequeno menino admirava o seu pai, amava a sua mãe. Preferia jogar, nadar e brincar com animais. Ficava a olhar o mar, explorava rochedos e arribas. O dia ao lado do seu pai era uma prisão de desinteresse, uma tortura de tempo perdido. E neste vazio, nasceu a tristeza. 

Felizmente, um dia encontrou uma gralha, que o passou a acompanhar para todo o lado sobre o seu ombro. Tornaram-se grandes amigos. Comunicavam lindamente, treinaram chamamentos e truques. Jamais se separavam. E de aventura em aventura, a atenção do menino voava nas asas negras e brilhantes da gralha. No campo de treinos começaram os erros e depois as faltas. E a cada falha da criança, a ira do Capitão fazia-o vociferar ameaças e ofensas. E assim, mais empurrava o pequeno para longe de si. A batalha mais importante da sua vida, sumia a cada ataque de cólera.Um Homem corajoso, tem de saber amar o próximo. a todo o momento. Mas quando as palavras saiem à ordem do gatilho, atingimos quem não queremos no coração.
No dia em que o capitão prometeu matar a gralha, já passou a madrugada seguinte sem o filho e a gralha sob o seu tecto. Todos os homens procuraram o menino e a gralha, sem sucesso. 
Passados alguns dias, o menino foi encontrado morto com a gralha no seu peito, cumprindo consigo a viagem.

A liberdade de fazermos o que mais gostamos, é a certeza de um caminho sem fim.

 A tristeza tem um fim, bom ou mau tem um fim.

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