Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Família: Buxaceae
Género: Buxus
Espécie: Buxus Sempervirens
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A 14.4.14 após transplante no Jardim de Bonsai com Rui Ferreira |
Labirinto de Cnossos o lar do Minotauro
Naquele jardim, assim como noutros que tais, os Buxus formam labirintos. Um qualquer jardineiro, com mais interesse sobre geometria e arquitetura poderia perfeitamente conjeturar paredes de arbustos em forma de labirinto, com o saudosismo de brincadeiras e partidas de crianças ou propiciar, aos mais pequenos, jogos de apanhada e escondidas; Ou mesmo oferecer a um casal de adolescentes um espaço de maior privacidade no seu caminho de conhecimento mutuo. Enfim... um qualquer jardineiro poderia lembrar-se disso mas temo que não seja esse o caso. Alguns são podados por mero interesse estético, porque sempre assim se podou... e portanto poucas críticas e aborrecimentos podem ser esperados.
Mas há jardins que, com estes
labirintos de buxus, pretendem recriar o lar do touro do Rei Minos, mais
conhecido por minotauro. No perdido Palácio de Cnossos, na ilha de Creta, terá
vivido em fúria Astério...
Os minóicos habitavam a ilha de
Creta... que encerra o mar Egeu, veremos adiante a razão de tal
designação. Morfologicamente falando são indivíduos diferentes dos
gregos... Creta recebia ventos, correntes e marinheiros de Norte, Sul,
Este e Oeste. A mistura destes povos aproximou a fisionomia
destas pessoas em favor, aos Egípcios... portanto poderemos imaginar
um povo moreno, baixo e de rosto alongado e marcado pelo sol.
A costa recortada, o terreno
acidentado tornam mais alto o Monte Ida... Lá do cimo, o Rei Minos deitava os
olhos ao mar e imaginava a sensação de domínio sobre toda a Ática. No entanto
Minos, contrariado, estava mais ocupado com estratégias de defesa. Os
minóicos recebiam ferozes ataques a Norte, a Sul e a Este, defrontavam
diferentes povos, diferentes líderes e diferentes tácticas. A única coisa
que tinham em comum era o facto de chegarem em grandes armadas de barcos à
vela carregados de homens armados de espadas ou arco e
flecha decididos a invadir praias e falésias até chegar à Torre
do Palácio de Malia, cuja varanda dava para o mar, era a mais alta
edificação da cidade.
Creta não tinha paz e portanto
não prosperava... era já assim mesmo antes do nascimento de Cristo, o
mediterrâneo poderia ser a primeira muralha do Rei Minos, mas neste passado longínquo,
estas águas tornaram-se uma ponte segura para invasores.
Com a resistência no limite, com
as forças dos homens a escorrer como areia fina na peneira, com o seu povo a
duvidar do seu líder... o tempo do Rei esgotava-se e o povo tornava-se
cada vez mais impaciente. Em permanente rivalidade e hostilidades com os Gregos
da Ática, Minos via a sua condição definhar.
Minos desceu à praia, levando
sobre as suas pernas magras, o tronco musculado mas com pele velha e o seu
rosto comprido coberto por barba e cabelo já grisalhos. Naquela
praia rochosa chamou Poseideon, o Rei dos Mares. As águas não se agitaram
mais, o mediterrâneo parou sete segundos até Poseideon emergir num mergulho ao
contrário, rompendo o ar, expelindo água para o sol, que desenhou um arco-iris,
que desapareceu no pestanejar seguinte. Água salgada em todas as direcções como
um geiser. De peito cheio, estendendo e rodando o seu pescoço
bruscamente como se tivesse regressado de uma profunda apneia... com o tridente
em riste caminhou sobre as águas até Minos, algo que retira a originalidade do
feito atribuído a Jesus. O Rei Minos parecia mais aborrecido do que
impressionado com a encenação divina, estava ali para negociar e não para
assistir a exibicionismos do Olimpo. Tal expressão, fez Poseideon tossir duas
vezes seguidas e recompor a sua postura diplomática, tentando dizer sem
palavras: “esqueçam tudo o que viram nos últimos segundos”. Minos foi perentório:
precisava que Poseideon, Deus dos Mares e Oceanos, protege-se Creta e os
Minóicos agitando o mar como um grande tapete persa, sacudindo e naufragando as
embarcações inimigas e as que sobrassem seriam para Minos finalizar.
Poseidon colocou as mãos atrás
das costas, baixou a cabeça, caminhou para um lado... depois para o outro. E novamente,
para um lado e para o outro. Parou em frente a Minos, ergueu o seu peito
musculado à altura do Rei de Creta, respirou fundo. Voltou a caminhar de olhos
no chão... para um lado e para o outro. Parou... finalmente. Disse não conhecer
Minos e duvidava da sua palavra e lealdade. Minos enfureceu-se, quase se
revoltou e antes de poder esgrimir os seus argumentos Poseideon encostou-lhe o
tridente à garganta abanando a cabeça. 'Vês como te falta sabedoria? Escuta
com mais atenção e fala com menos pressa. Eis o que te proponho Minos: vou
oferecer-te a mais bela criatura que alguma vez terás vislumbrado ou imaginado,
mas em minha honra sacrificarás o animal perante todos os Minóicos.' Para
Minos parecia simples, não lhe roubaria o sono, a morte de um animal... afinal,
sacrifícios humanos por esta altura eram prática corrente e era violência que
não roubava o sono a reis, sacerdotes ou Deuses... Nunca imaginou que seria tão
simples ter Poseideon a seu lado. Claro que aceitou. Poseideon pediu-lhe homens,
pois o animal chegaria selvagem. Assim que chegaram cinco dezenas de soldados,
o tridente de Poseideon tocou levemente as ondas que lhe banhavam a planta do
pé, uma corrente amarelada correu contra corrente em direcção ao horizonte...
retirou o tridente da água com um sorriso e aquela mancha brilhante deslizou
mar fora até se perder de vista. Os homens ficaram com a atenção suspensa nas
águas como quem espera o exército Persa, Minos estava insatisfeito com a demora,
preferia ter já o animal degolado para regozijo e segurança do seu povo. Mas,
não querendo desagradar mais a Poseideon lá escondeu a sua impulsividade. De súbito
notou-se a mancha da turbulência nas águas, como se da velocidade de um monstro
marinho se tratasse. Dois chifres saíram das águas empurrados pela pujança de
um touro branco e olhos negros, que rapidamente pisou a areia. Minos
ajoelhou-se perante aquele misto de beleza e força, rendido sem reação.
Dez homens levantaram os pés do chão e voaram como campinos ou espantalhos
articulados até aterrarem nas rochas escuras ,cada um com o seu estilo, já não
veriam novamente o Touro Branco. Cordas.... nós... puxões... encontrões...
investidas... corridas... gritos de ordem... mugidos de quem anseia a
liberdade... forças contrárias... atritos e atropelos... patas sobre corpos
rasteirados... voltas... esboços de investidas... cansaço... tentativas
lentificadas pela gravidade... controlo... línguas de fora e pulmões
expandidos... cedência. E levaram o touro da praia em direcção a Malia, cidade
de comércio marítimo que servia a exportação dos excedentes agrícolas e
beneficiava a importação de matérias como o cobre.
Durante a viagem Minos não tirou
os olhos do animal: pêlo liso e curto de um branco imaculado, musculatura
tonificada a demonstrar robustez, a sua cabeça era enorme, firme, com
movimentos orgulhosos certos nunca se vergando, permanecendo em luta para se
soltar. O animal transmitia energia, força, encanto e respeito.
Chegados às portas da
cidade, Minos mandou soltar o animal junto da sua numerosa manada e indicou o
seu melhor touro para sacrificar, em honra a Poseideon.
No dia seguinte, ao final da
tarde quente, com aquela luz laranja e lilás sobre a atmosfera os Minóicos
acotovelavam-se na praça principal de Malia, para testemunharem a viagem divina
do touro. A violência e crueldade de tal feito, que faz a espada de cobre tocar
no coração da besta ficando cravada por entre as espáduas do inocente,
assemelha-se ao que acontece em pleno século XXI em praças portuguesas e
espanholas construídas para o efeito. Temos, portanto, ainda hoje o filme e as
emoções de tão pobre espetáculo, pelo que mais vale passar à frente as palavras
destinadas ao sofrimento do bicho. O que interessa é que o Rei Minos se
apaixonou pela beleza do touro branco de Poseideon e presenteou a divindade do
Olimpo com um simulacro, com uma falta de palavra, com uma lealdade furada.
Está claro que Poseideon
descobriu: ou lhe disseram ou ele mesmo presenciou tal golpe de teatro. E, tal
como em outras ocasiões, enfureceu-se em mar bravo e com a velocidade das ondas
a esmagar a areia, sentenciou a pena para Minos.
Vai agora o leitor desculpar-me
por ter de narrar o que se segue e desculpar Poseideon por manifesto mau gosto na
atribuição do castigo ao Rei Minos, mas o que está feito, ao Deus do Mar
pertence e ninguém poderá alterá-lo.
Entrando de rompante no Porto de
Malia, rasgando o casco de dois navios e fazendo inclinar a plataforma do cais,
Poseideon não se dirigiu ao palácio, mas sim à oficina do mais talentoso
arquitecto de Creta. Entrou de rompante na pequena barraca, deixando cair
ferramentas e latões assustando o pequeno homem que estava debruçado na bancada
sobre um desenho de asas gigantes. Apontou o tridente em direcção a Dédalo - o
mais famoso arquitecto de Creta, ordenando-lhe que construísse uma vaca
mecânica onde coubesse Pasífae - mulher de Minos, rainha de Creta. Tarefa
difícil, mas não impossível para tão talentoso e engenhoso técnico.
Encomendada a construção da besta
mecânica, faltava-lhe alma e útero. O Rei dos Mares disfarçou-se, deixou na
oficina de Dédalo enrolado num pedaço comprido de sarapilheira. Foi calmamente,
por entre a multidão, até ao Porto onde ofereceu ao mar a sua coroa, que estava
presa nos cabelos grisalhos e compridos e o seu tridente. Foram levados dali
por seres marinhos para lugar seguro.
Voltou-se para o coração da
cidade e diluiu-se na alma da cidade. Escutando lamentos e ouvindo preces
a ele próprio, chegou calmamente até à porta do palácio. Disfarçou-se de
guarda, esgueirou-se por corredores menos movimentados, subiu escadarias em
caracol frias pela pedra clara em local escuro, até encontrar o quarto de
Pasífae. A mulher era elegante e estava vestida de noite, preparando-se para
receber Minos e satisfazê-lo, satisfazê-lo... apenas satisfazê-lo, ficando só
com o seu ciúme. Avaliando o Deus do mar, pensou a mulher que teria uma noite
bem mais interessante e quente... no entanto, Poseidon estava pronto para
oferecer outra paixão. Aproximou-se da mulher que deixou cair o véu, deixando
oferecido o peito generoso à divindade. Deu um passo em frente com as mãos em
direcção aos ombros do Deus, afinal os olhares pareciam sedentos de desejo. Mas
Poseídon investiu as suas grossas mãos no pescoço da rainha e aproximou-lhe os
olhos que lhe penetraram a mente e a consciência da mulher que deixou de ver...
por instantes... embalou-se num sonho estranho... prado verde, manhã seca,
animais, manadas.. o Touro branco de Poseidon a investir, a por em ordem o caos,
a cobrir as fêmeas que conquistava quando cria com a violência do seu
tamanho. Desejava o Touro de Poseídon, tão loucamente que perdia o
fôlego, que a sua realização era ter o touro e nada mais. Passou as mãos no
Touro, esqueceu Minos... detestou-o, curou-se dos ciúmes que lhe arrancavam a
pele todos os dias, montou o touro. Passou Dédalo pelo campo que sorriu para a
cena, como um padrinho, acenou, aceitou. Sentiu que Dédalo estava com ela.
Continuou no dorso do robusto animal que a levou até a um lugar onde ardeu em
desejo. Voltou ao tecto do seu quarto com Minos a seu lado...
Quando acordou, Posídeon já
tinha regressado ao coração do mediterrâneo... mas a paixão do sonho
permanecia. Desejava o touro e a sua atenção não a libertava para mais nada que
não o animal. Foi vê-lo à sua manada e dia após dia o visitava. Minos
permaneceu na ignorância e assim deverá permanecer.
Pasífae, apegada ao sonho, visitou Dédalo.
Desceu do palácio, fazendo-se passar por uma minoica qualquer, com um véu na
cara e vestido largo a cair pelo chão, deixando apenas os seus braços nus.
Olhava constantemente para a retaguarda, para a direita e para a esquerda com
receio de ser seguida. Minos não deveria saber. Finalmente entrou na rua
estreita, com pequenas casas de um lado e do outro. Bateu à porta. Dédalo
demorou a abrir... escondia o desenho da rês mecânica tapou-a com velhos e
compridos panos brancos sujos de pó, fingindo descansar com o cotovelo
sobre a banca: "entre!".
A rainha foi perentória,
na pressa da paixão: "Dédalo, não me mentirá, sou a sua rainha e a minha
ira poderá decidir o seu destino. Poseidon esteve aqui?". Contra gosto,
depois de retirar o cotovelo da banca e o seu corpo ganhar a postura vertical,
lá admitiu que sim. "O que o Deus do nosso mar te ordenou, Dédalo?"...
o arquitecto lá sentiu que não era o seu dia "Nada. O que havia um Deus de
crer? Um templo, claro." Tão pouca convicção se sentiu naquela frase
rota... "Nada? um templo? como desejaria Poseidon um templo, se Minos
prefere estar afastado da protecção do Olimpo, na sua cega arrogância?
Mente-me? Como desejais morrer... Dédalo? Pensais, por um acaso, que me irás
enganar? Achais por algum acaso que Minos me mente? Ele não me mente, conheço
as suas traições, vejo cada rosto que me golpeia a cada beijo... e um destino
diferente lhes formulo. Arquiteto de Creta o preferido de Minos... não queiras
já morrer." Bem um homem como Dédalo não gosta de ver a sua vida em risco,
muito menos conseguia conceber estes fracassos matrimoniais. E, esta subtil
incapacidade de não conseguir entender o outro, deixa a razão atuar só, com as
vantagens do raciocínio lógico, frio e descolorado, mas despido de emoção e
arte. Portanto, foi vê-lo a descrever a conversa com Poseídon e a apresentar o
seu projeto de vaca mecânica segundo ele difícil de concluir num curto espaço
de tempo devido aos serviços em lista de espera e à dificuldade em arranjar
madeira, cobre, marfim, alma e útero para este projecto sem classificação.
"será o seu próximo e único trabalho, eu mesma lhe farei chegar os materiais,
a alma e o útero."
Os minóicos produziam
excedentes agrícolas para em troca obter outras matérias primas. No porto de
Malia recebiam-se mercadores de vários pontos do mediterrâneo, numa azáfama de
negociatas, zaragatas, cores e cheiros. Nesta confusão de corpos e mentes
focadas em obter proveito próprio, Pasífae durante meses passou despercebida no
Porto adquirindo em pequenas quantidades os materiais que Dédalo necessitava
para a construção da mulher do boi, a vaca. Depois, normalmente ao final da
tarde, passava no prado ou no estábulo para adorar a criatura... Convinha
manter presença assídua, não fosse perder a atenção do macho.
Durante estes mesmos meses, do
outro lado do mar, em Atenas na Grécia, Egeu andava muito entusiasmado com a
organização as Pan-Ateneias, esperando mais uma vez surpreender e agradar à
Deusa Atenas. Quatro anos depois e Atenas receberia novamente os melhores
homens esculpidos e cultivados à imagem dos deuses. Lutas, corridas de cavalos
e carruagens, corridas como a lampadodromia, uma corrida estafeta em que
ganhava o colectivo que primeiro acendesse a fogueira. Claro que o evento
também acarretava música e poesia, declamados no Teatro Odeon.
Tal como nos ventos do século
XXI depois de Cristo, portanto um futuro bem longínquo, parece que o músculo e
a testosterona dos atletas espelham a saúde de um estado ou região... ou por
outro lado demonstram a superioridade de uns povos sobre os outros. Enfim a
necessidade de hegemonia parece ser algo filogenético ou antropomórfico que se
mantém agarrado ao gene "xy" e teima em não se perder. E tristes
resultados se têm vindo a conseguir com cegueira tão infantil.
O que interessa é que
todas as regiões da Ática se preparavam para demonstrar o seu potencial a Egeu
e a Atenas, conseguindo então trazer o azeite como precioso prémio.
Teseu, filho do Rei Egeu, era o
grande favorito à vitória não só pelo seu corpo são, mas também devido ás
batalhas conseguidas perante enormes e ferozes adversários. Mantinha-se a
treinar arduamente todas as disciplinas das Panateneias para honrar Atenas, seu
pai e seu povo... note-se a ordem de suas prioridades, também bastante
contemporâneas.
Como já é sabido, Minos desejava
conquistar a Ática de Egeu, e consequentemente a cidade de Atenas. No entanto,
não tinha ainda força para concretizar tal ambição. Por isto qualquer
humilhação que pudesse oferecer a Egeu era, numa primeira instância, uma
vitória, um golpe, um sinal de que os Minóicos eram melhores e triunfariam.
Não entendendo estes homens de
sensualidade e amor... pouco desconfiava Minos do estranho comportamento de
Pasífae e do aparente desaparecimento de Dédalo, que poucos lhe punham os olhos
em cima, dada a escassez e rapidez das suas saídas da oficina. Pouco faltava
para terminar a vaca máquina ou máquina vaca e, se por algum acaso,
estivessemos na idade média de Portugal, tal rês designar-se-ia vacarola dada a
robustez e rusticidade da geringonça. A rainha já lá se tinha enfiado, mas
Dédalo não deixou ninguém ir para o prado. Se o touro branco de Poseídon a
cobrisse, ficaria tudo em cacos e conheceríamos um triste destino para Pasífae.
Só um individuo como Dédalo e a sua lealdade, já transformada em amizade,
conseguia dar alguma razão à paixão fogosa da rainha. Já era aquele amigo que
ouvia confissões, desabafos, partilhava sonhos e interesses ao ponto de se
confundir a relação entre os dois. Já não se sabia se era amiga e amigo ou
amiga e amiga... bom algo que também não caiu em desuso nos anos após cristo.
Ninguém está desejoso de ver a obra terminada... pois imagina-se de seguida o
uso que a engenhoca terá. O que é certo é que o arquitecto deu a obra por
terminada... e Pasífae pôde dar corpo ao sonho com que Poseídon a enfeitiçou.
Como já atrás foi dito, a cena de mau gosto lá se deu... no meio do prado o boi
lá se empoleirou na vaca mecânica com Pasífae lá dentro e cada um imaginará se quiser,
o que raio veio a acontecer. Pior, é que tal brutalidade em tamanho e barulho
não poderia passar despercebido a estas retinas com poucas distracções entre
colheitas, lutas, batalhas e Deuses do calibre que temos vindo a assistir. E se
Pasífae não esperou pelo final do pôr-do-sol para se derreter no seu encanto
tauromatico... habilitou-se a que línguas vorazes alimentassem o boato: "o
touro branco de Poseideon cobriu a rainha de Minos".
A partir daqui Minos escutando o
vento de palavras ditas por quem disse, passou a desconfiar de sua mulher, de
sua rainha. Mesmo sabendo que lhe era infiel, nada mais aguçado pode
estrilhaçar a confiança e a estima de um homem que ser desdenhado pelo amor da
sua própria esposa. Tudo se voltava ao contrário, tudo se voltava contra Minos,
até o Óraculo lhe confidenciou que o mar de Poseidon iria engolir Creta, com a
crueldade com que lhe roubou a mulher.
Depois de perder a mulher,
apaixonada por outro, Minos olhou a família em sua volta, seus filhos e filhas.
Como um rei tão frio, duro e pesado cai de joelhos, assim? Bastou um golpe
divino e uma aventura de sua mulher... para partir as rótulas no granito,
prostrado a procurar no chão onde errou e por onde se pode erguer um homem, um
rei abandonado por todos os que já tinha abandonado.
Eis as imagens da família no
jardim, das poucas brincadeiras com os seus filhos e um beijo na boca de sua
mulher a confirmarem a paz, a felicidade, o amor que torna tudo o resto não
essencial. Onde está o herdeiro, o seu filho, agora homem? Nem se lembrava que
Androgeu tinha crescido, que ingrato pai não olha o ser filho crescer? só agora
no desamparo é que Rei Minos voltou a encurtar a distância rude que criou
propositadamente para fazer do filho uma fera. Porquê tanta distância?
Perguntou-se o Rei... se amo o meu filho... porque não o ajudei a crescer,
porque não estive a seu lado? Porque raio apenas me preocupei em dar-lhe o meu
espaço quando uma flecha me entrar pelos olhos, me levar a luz da vida...? Não
irei estar em Androgeu... e ele só estará neste meu espaço cheio de todas estas
coisas nenhumas sem a memória do seu pai. Reflexão importante esta do Rei
Minos, sobretudo para homens que decidem o destino dos seus povos. Infelizmente,
para sua majestade, o tempo é a única coisa na vida que quando se perde já não
se reavê, restando viver o tempo que sobra de uma forma em que fique guardado
em nós e nos outros. Procurou Androgeu e seu futuro, perguntou aos seus
guardas. Não sabiam. Escutava o som da arpa, dirigiu-se à sala onde normalmente
as mulheres tocavam, estavam lá as suas filhas: Acalle, Xenodice, a bela
Ariadne e Fedra. Apontaram Androgeu e seus irmãos Catreu, Deucalião e Glauco.
Todos bons rapazes, mas os três não tinham metade da ambição, força e coragem
do irmão mais velho.
Androgeu estava no páteo da casa
de Malia, os seus irmãos apenas assistiam da varanda, onde treinava, treinava e
libertava a raiva do vazio do afecto em paus, em homens e animais. Levava tudo
a eito e de preferência pouco ficava na sua primeira forma. Minos conseguiu.
Androgeu era uma fera. Corria, saltava, pulava, lutava, cavalgava e matava de
uma forma quase herculiana. Depois de observar um recital de performance motora
em forma de pancada, Rei Minos sorriu, pensou: "este é o meu filho" –
ultrapassando, portanto, a lamechiche que teve fonte em Pasífae ainda não há
muito tempo, Androgeu, seu filho era a boa nova!
Poucas dúvidas havia sobre a
possibilidade de Androgeu e restantes atletas de Creta oferecerem ao rival Egeu
uma esmagadora derrota nos jogos panatenaicos.
Meses passaram... e por todo o
mediterrâneo se esperava pelos jogos que iriam opor o moreno e baixo Androgeu -
herdeiro de Creta, ao exemplar semi-deus – Teseu, herdeiro da Ática.
A ver vamos o que se passou...
Enquanto na Ática Egeu organizava os jogos que sinalizavam a hegemonia das
regiões circundantes, havia um Rei sozinho que sofria em silêncio frustrações
de guerra e amor...
O rei Minos deixou de desconfiar
da sua esposa. Não que ele tivesse voltado aos seus braços, a sofrer da
cegueira de primeira paixão, mas porque Pasífae lhe confessou o pecado e
portanto da desconfiança nasceu a certeza. Também não esperemos que esta
confissão seja a subtração da sinceridade com a vergonha, porque assim não é.
Simplesmente, a rainha era já incapaz de disfarçar tamanha barriga e portanto
na sua decência, decidiu abrir o jogo, desculpando-se com a maldição de
Poseídon. Pior, a rainha tropeçou no medo que a torturava e entregou o seu cúmplice...
– Dédalo, o arquitecto. Muita loiça preciosa se partiu naquela sala... muitos
gritos vorazes a parecerem rugidos e muitos passos de centopeia que não levam
ninguém a lado nenhum, senão à insanidade de tigre na sua jaula. Uma barata
anda devagar e menos confusa que o Rei Minos, ao saber desta terrível desonra.
O sangue subiu-lhe a ferver aos miolos... e também ás suas vísceras e aos seus músculos
em rutura de tanto contraírem. Disparava sobre todas as imagens que o seu cérebro
o obrigava a ver... Egeu... Poseidon... Atenas... tudo queria derrotar de uma
só vez. É assim que a ira se traduz... na vingança.
Duzentos e setenta dias depois
do momento em que Pasífae amou o touro branco mais bonito que o Olimpo já viu,
deu à luz o selvático e monstruoso Astério. Para esconder a humilhação, o Rei
Minos ordenou a Dédalo a sua ultima obra em Creta, deixando-o depois fugir para
a Sicília. Não se tratou de uma fuga... mas um divórcio de dois amigos. O
arquiteto comprometeu-se a oferecer ao Rei um labirinto de onde ninguém sairia
vivo para testemunhar ou descrever a horrível criatura. Assim, o filho de
pasífae e do touro de poseidon, foi levado para o Labirinto de Cnossos. Em
adulto, armado com espada, abrupto, feio, horrível, com chifres encorpados a
cobrir toda a cabeça e depois a apontarem para cima, com narinas a ofegar
ar quente e suor e olhos em raiva em encarnado. Metade homem, metade
touro... a força bruta da natureza, tal como um touro bravo acabaria com quem
se cruzasse no seu território, agora um labirinto, um inferno... O Rei Minos
passou a sacrificar aqui traidores, inimigos e os seus próprios súbditos se
assim fosse o desejo do Olimpo. Ao entrar no Labirinto do Minotauro seriam
empurrados, pontapeados, esventrados e degolados num crescendo de crueldade e
violência.
Os ventos mudaram e assim as
marés. O mar mediterrâneo ficou agitado, os barcos eram atingidos por
tempestades ou arrombados por criaturas marinhas gigantescas que arrancavam com
mandíbulas e tentáculos os cascos da superfície. Era mais difícil atingir Creta
com frotas intactas e prontas para o cerco. O Rei Minos não sabia se Posídeon
continuava furioso com os Minóicos ou se com a sua mórbida vingança, pois
considerava as contas saldadas. Não se sabe, mas Creta levantou-se, ergueu-se,
cultivou-se, produziu, aprendeu, criou e pintou. Muito rica e poderosa ficou
esta civilização que dominava o comércio mediterrâneo. Minos já subia de novo
ao Monte Ida confiante de que poderia estender a Atenas o seu poder. E a
primeira vitória não tardava em chegar, pois Androgeu já tinha partido para os
jogos panatenaicos.
Junto ao teatro de Odeon,
debaixo daquele calor que faz a Oliveiras brilhar, recitava-se poesia e prosa,
ouvia-se musica e anunciava-se o calendário das provas. O movimento pelas ruas
de Atenas era imenso, vivo, alegre, colorido, quente como que todos estivessem
contagiados pelo verão e pelo culto social. No dia seguinte no Estádio, as
regiões participantes e respetivos atletas perfilaram-se, pavoneando-se,
comparando-se e exibindo-se tentando uma primeira vitória estética. Cada uma
das equipas imolou um boi e ofereceu a carne ao povo, a festa começava agora
determinantemente.
Muitos relatos, comentários, estatísticas,
comparações, insinuações e muitas conjugações condicionais se poderiam fazer
para obter vitórias morais e arranjar culpados no meio da sorte e do azar... Mas
este esse espetáculo é uma característica de outro século depois de cristo.
Portanto, iremos dar notícia do que realmente importa e para a história ficou.
Nas provas de hipismo... ou corridas de carros puxados por cavalos, Androgeu e
o seu Auriga não deram chance à concorrência. Não só os cavalos galopavam
rapidamente, mas também Androgeu assumia a responsabilidade de eliminar à força
a concorrência que se aproximava. Assim cortaram a meta isolados e brindados
por grande ovação. No Pireu, Androgeu remava a motor... parecia ter quatro
braços e seu corpo ser uma canoa. Um regalo para a vista vê-lo abandonar a
concorrência e Teseu, com estilo, equilíbrio, agilidade e suavidade embutidos
em força bruta. Na corrida das tochas, uma disputa realizada por estafetas ao
longo de mil metros, decompostos por vinte e cinco metros corridos por cada
elemento. Vencia a equipa que mantivesse a tocha acesa até final do percurso.
Importa dizer que Teseu e Androgeu fizeram o último quarteirão de metros a
correr como cavalos de corrida, lado a lado, com a saliva a pingar da boca pois
nem podiam respirar com o esforço e no último metro, Androgeu soprou
escurecendo a tocha de Teseu, que foi desqualificado pela organização do seu
próprio pai pois passou a meya na penumbra. Ninguém desconfiou do sopro de
Androgeu... mas o jogo é assim, desleal como a vida, e nem sempre ganha o mais
verdadeiro. Teseu ficou furioso... e a fúria emociona demais a razão. Foi o que
ficou comprovado nos jogos de luta em que num golpe rápido a responder à
impulsividade de predador de Teseu, Androgeu atirou o seu rival fazendo com
que as duas espáduas batessem com estrondo no chão, afogando Teseu na humilhação
de ser consideravelmente o mais fraco. O Rei Egeu estava embaraçado, Creta e
Androgeu venciam tudo e ainda faziam pouco dos bonitinhos Atenienses. E aqui
meu caro leitor, lá vem mais uma lição sobre o bicho homem e a razão pela qual
regressaremos a encontrar Astério. O estádio gritava o nome de Androgeu, vivas
a Creta, longa vida a Androgeu... e descontrolos verbais que tais. O rei Egeu,
com o seu filho ainda a ganhar fôlego para se erguer da poeira e vexame, exigiu:
- “SILÊNCIO”! - Sendo que a ultima sílaba já conseguiu ter eco por entre os
ouvidos de toda a multidão que murchou naquele instante. "Androgeu, filho
de Minos não será tão forte como pensais. Apenas venceu homens iguais a ele num
momento de fragilidade de uns e fraqueza de outros." Retórica apenas...
porque nas vitórias e derrotas existem sempre oportunidades, circunstâncias e
pontualidades que não interessam ao curso da história. Mas deixemos o Rei
terminar o seu anúncio. - "Se és assim tão forte, Androgeu, vencerás com
facilidade o Touro de Maratona". - E após um ferro lhe ter penetrado o
dorso carnudo e negro, uma porta abriu-se à fúria do touro picado que saiu em
corrida, libertando ainda um ou dois coices na atmosfera. Nisto, Androgeu que
fitava Egeu na tribuna, teve de olhar para trás e medir o animal que já se
tinha detido na sua frente. O bicho investiu contra Androgeu que se atirou para
o lado deixando o touro correr em frente. Rapidamente, os chifres inverteram
sentido e repetiram a investida; Androgeu desviou-se novamente em direção ao
chão. O touro passou e logo se voltou. Nova investida e Androgeu já não
escapou, sofrendo um golpe na perna e saindo a voar desamparado. Sem poder de
impulsão, Androgeu preferiu pegar o touro, aceitou a cabeça da besta no peito,
bloqueando a respiração com dor, abanou como abana um forcado na cabeça do
gado, quis-se manter agarrado, mas não foi possível. E, nesta brecha, neste
gesto falso, o touro recua o seu chifre e avança-o pelo abdómen do filho de
Minos. E, a ter a certeza de que a ameaça se extinguia o touro não parou de
mutilar o corpo. E assim se perdeu Androgeu... E assim, a ira do Rei Minos lhe
saiu pela boca quando soube da cobardia de Rei Egeu.
Minos não precisava de motivo
para invadir a Ática. Poderia fazê-lo quando quisesse, afinal era filho de
Zeus. Mas, quando os homens têm um motivo para lutar e perder a vida,
multiplicam-se a eles e às armas que possuem. E os relatos chocaram a civilização
- o assassinato de Androgeu indignou os Minóicos. Assim, Minos sabia que este
era o momento de reunir todo o exército, de embarcá-lo numa frota nunca antes
vista em quantidade e qualidade. Poseideon lá fez o jeito... e deixou mar chão
para que a Ática se colasse à ilha de Creta. Nem arrisco dizer o número de dias
que demoraram os barcos a cercar Atenas. Ao mesmo tempo, Zeus lançou uma enorme
peste sobre a cidade, que enfraqueceu os atenienses. Egeu estava diante de um
inimigo enorme sedento de vingança e o seu exército estava fraco e vulnerável.
O desfecho era previsível... Os Minóicos penetraram rapidamente cidade a
dentro, sem recorrer a grandes estratagemas: chegar, ver e vencer. Deu a
sensação que, num abrir e fechar de olhos, Minos tinha a espada junto às
carótidas de Egeu. Empurrou a lâmina sobre a maçã de Adão, bastava um gesto
rápido de extensão do cotovelo e a cabeça de Egeu estaria a rolar pelos degraus
da escadaria da torre, que olhava a cidade de cima. Mas não foi essa a escolha,
fácil, do Rei de Creta. Minos preferiu deixar o seu adversário na humilhação e
submissão. Note-se bem o que acabou por acontecer: - "Rei Egeu, povo da
Ática. Agora aos Minóicos pertencem. Os vossos destinos são as minhas ordens.
Egeu entregou-me todas as vossas terras e todas as vossas almas. Assim fica
determinado que Egeu irá escolher anualmente sete rapazes e sete raparigas ao
meu filho Astério, do Palácio de Cnossos".
E assim foi... Sete rapazes e
sete raparigas foram entregues a Minos. Desembarcaram em Malia e foram escoltados
a pé até ao labirinto do Minotauro. Na sua presença, a porta abriu-se, um
corredor húmido, frio misturado com quente, fundo iluminado com a luz natural
que se extinguia ao fundo. Luz que decerto se apagou quando nas costas do grupo
se fechou a porta. Sentia-se a criatura a vaguear, os seus vultos eram frios e
rápidos e surgiam quase que por cada encruzilhada que passavam. Um a um... iam
sendo eliminados e devorados a belo prazer de Astério que conseguia perpetuar a
sua caça ao longo de trinta dias de angústia. Quando há forças desequilibradas
os abusos aumentam... E onde existe muita maldade e desgraça na mesma proporção
os estômagos mirram e a paciência desaparece. O segundo ano de pagamento custou
ainda mais que o primeiro, porque ao sofrimento e dor dos primeiros doze meses
se somou a angústia da espera, o arrependimento da escolha dos jovens e a
emoção negativa da punição cruel e injusta. A matança foi igual, mas a dor foi
maior... Atenas diminuiu, encolheu, vazou, perdeu, escorria a cada minuto. Até
chegar o terceiro pagamento, que se realizou. Não se consegue viver em luto
permanente, há coisas que têm de terminar pois não há povo que não se solte das
cordas que o sufocam. Foi Teseu que se apresentou a seu pai. Egeu estava
sentado a olhar no vazio, a gordura de aristocrata tinha-se transformado em
magreza enferme, com pele de cor branca de quem está na masmorra, postura
triste, resignada, sem tónus para a ação, sem motivo para levantar os olhos
sempre lacrimejantes do chão. Egeu sentia-se culpado... e era o culpado...
morrendo no dia em que escolheu catorze jovens pagar a sua avareza e capricho.
O jovem aproximou-se e o velho nem se mexeu: - "Meu pai, não foste sábio
outrora. Escolhes-te mal...". O velho levantou a cabeça, o jovem calou-se
mas não obteve resposta, os olhos resvalaram novamente para o chão: - "estava
a dizer que não mereces tal castigo, de morrer aos poucos com a morte de
outros. Irei a Malia de visita oficial para negociar azeite mas armado para
matar Astério". - O Rei levantou a cabeça, parecia ser a única articulação
que tinha e respondeu: - "Se
voltares, que o teu barco ice uma bandeira branca para que não sejas confundido
com um barco inimigo. Vai.".
Sem beijos nem abraços, os
mortos estão frios e Egeu não parece vivo, talvez esteja com uma árvore latente
no Inverno com vida aparente apenas nas raízes.
Teseu acompanhado por treze
homens, metade agricultores, metade soldados que o escoltariam até Cnossos ao
abrigo da noite. Foi recebido no palácio sem pompa e sem circunstância, melhor
assim. Não viu nem Minos, nem Androgeu. Dirigiram-no a uma sala ampla decorada
com loiças e pinturas de mulheres nuas. Ali discutiram com o governador de
Malia as quantidades de azeite a produzir a vender e a prestar contas sobre a
execução e exercício político e financeiro em Atenas. Já sabemos que era uma
região que definhava de ano para ano e as contas demonstravam-no. Nada que
preocupasse o Rei Minos. Terminada a reunião Teseu e sua comitiva sairam da
sala, tinham os seus quartos preparados, não se pense que eram boas instalações
porque não eram e Minos fazia questão em proporcionar sempre mais e melhor
humilhação aos Atenienses. Claro que as moedas têm o seu reverso e normalmente
atrás do ódio resulta o amor. E ainda antes de Shakespeare nos contar a
tragédia de Romeu e Julieta, já Teseu tinha visto Ariadne pela janela do seu
quarto. Olhar que foi correspondido e que ali ficou suspenso por entre um
sorriso e um olhar de soslaio. É assim que acontece, Teseu foi à janela quando
Ariadne fez uma festa ao de leve num Buxus bem podado no jardim, gesto que
deixou cair a alsa do seu vestido e o comprido do seu claro cabelo deixando a
suavidade e brilho da sua pele e do seu ombro feminino deixar Teseu em desejo.
Nada acontece quando um homem aprecia uma mulher, mas há movimento quando a
mulher descobre por cima do seu ombro que inundou o interesse de um homem e lhe
dá a entender que ele também não é desinteressante. Um homem que deseja e uma
mulher que não deixa de pensar que o homem que a fitou pode ser interessante, é
aqui que se desenha no ar e nas cabeças um ponto de interrogação. E desta
interrogação nasce um desejo muito forte, muito particular, que invade os
nossos sonhos e nos leva ao êxtase só de fecharmos os olhos. E quando abrimos
os olhos à manhã percebemos que o sonho nos faz desejar mais ainda o homem ou a
mulher e o mistério e prazer que aparentam transportar. Neste enredo inventado
por Afrodite caíram Teseu e Ariadne. Por um qualquer acaso, um qualquer assunto
fez cruzar os seus passos penso que terá sido uma visita aos banhos e uma
toalha esquecida no chão. O quarto arrefecido de Teseu ganhou cor e fervor.
Ariadne levou o seu corpo e ofereceu-o com toda a alma. Submergiram os dois num
corpo só desenhado desde sempre, que sempre perseguiram e só agora encontraram.
Ficaram um no outro, toda aquela noite, esperando que não terminasse. Mas há
sempre a chegada da cumplicidade de um abraço que encerra o êxtase e despe as
vidas de cada um como uma oferenda. De tal forma que Teseu disse a Ariadne a
razão da sua presença em Creta, iria sair com seis homens até Cnossos e matar
Astério. Ariadne era Minóica, a sua vida era Teseu e já não respirava sem ele.
"Não vencerás o meu meio-irmão sem a espada de Ouro de Malia e terás de
levar um rolo de fio de lã para regressares do labirinto". Foi Ariadne que
retirou a espada do quarto de seu pai e a entregou a Teseu. Uma noite de êxtase...
na noite seguinte marchariam pela penumbra até Cnossos. Ariadne exigiu ir,
pediu para fugir com Teseu, pediu para o esposar, para lhe dar filhos e
felicidade. Com as mãos de Ariadne na sua nuca, com os seus seios no seu peito,
empoleirada como se estivesse à varanda da Primavera, Teseu aceitou levá-la.
O plano cumpriu-se dentro
do previsto, apenas com Ariadne constituindo o parêntesis da normalidade.
Teseu olhava quando se podia desconcentrar do caminho, media-lhe as coxas, a
barriga, o peito, a linda face... Como é que no meio da violência pode nascer
assim o amor!
Eis o Labirinto de Cnossos, e o
cheiro a morte e a podre sentiu-se quando aquela porta se abriu à presença do
corpo de Teseu. Ariadne colocou-lhe á cintura o rolo de lã, a espada dourada
iluminava o corredor, eis a vantagem da peça. Entrou num passo hesitante, a
besta apareceu-lhe olhos nos olhos mugindo de raiva e fúria e desapareceu no
mesmo instante. Teseu sentiu medo, claro, e susto também, mas estava vivo ali e
Astério também; que se inicie a caça.
Quem caçava quem? Astério
movimenta-se a correr, esquivo de corredor em corredor, de sombra em sombra.
Era o seu truque, o seu trunfo. Mas Teseu via-o e estudava-o. Astério não se
apercebia que a luz da espada o denunciava. Assim Teseu deu costas a uma
esquina, esperou a correria desenfreada do meio-irmão de Ariadne e ao som dos
seus passos preparou a espada sobre o seu ombro, fincou-lhe bem os dedos e à
passagem do animal separou-lhe a cabeça de touro do corpo de homem. Fácil
demais. Mas os medos perdem-se com o conhecimento e quando se vê, resolve-se.
Puxou o fio de lã, até aos braços de Ariadne.
Roubaram um navio Minóico e
fugiram mar fora. Resolveram aportar na ilha de Naxos, para evitar perseguições
náuticas e aproveitaram para festejar. Festa com Baco, festa com boémia, com
vista turva e corpo cambaleante. É no meio desta confusão que Ariadne se afasta
um pouco de Teseu, vem olhar o mar, o seu passado... e o seu futuro é raptado
pela mão na boca de Dionísio que a leva sem deixar rasto.
Teseu perdeu o norte, perdeu
clarividência, perdeu razão e voltou num corpo parecido com o do seu pai. Os
olhos ficaram no casco do navio, assim como o seu corpo, assim que o navio
entrou nos mares de Atenas com bandeira negra içada. Egeu ainda hesitou... mas
baixou o braço para a ordem de abrir fogo.
Quando Egeu soube que era Teseu
que chegava triufante, lançou-se da falésia e ofereceu-se ao mar que já tinha o
seu filho e assim se passou a chamar Mar Egeu.
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Transplatado a 2.3.14 na Escola Jardim Bonsai com Rui Ferreira. Encontra-se num vaso provisório, daqui a 3 anos espero dar-lhe um outro vaso. |
Os buxus pertencem à família buxuceae. Não atingem alturas superiores a 12m. Só as espécies provenientes da europa e ásia é que toleram o frio. As espécies tropicais terão condições mais apropriadas no interior. (aguarda lenda ou outras palavras soltas)
Este buxus foi-me oferecido pelo Luís, muito obrigado parece-me uma árvore com muito potencial. Por esse mesmo motivo não quis arriscar muito nesta poda, mas desejava limpar a árvore para poder observar a estrutura e sobretudo para ganhar força. Assim podei os galhos e folhas que nasciam e cresciam por baixo e para baixo. Eliminei os galhos secos, deixei delineados alguns possíveis patamares.
Tenho ainda dúvidas sobre qual será o melhor ângulo de apresentação da árvore. Aguardo o próximo encontro para me darem a vossa opinião e eventualmente realizar a aramagem de alguns ramos.
E ficou assim.
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Antes dos trabalhos |
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Depois dos trabalhos |
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frente |
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