Com o crescimento e resposta desta Serissa, poderei mudar de ideias relativamente ao seu futuro. |
Gottfried Wilhelm Leibniz
Filósofo, matemático e conselheiro político
alemão, nasceu em 1646 em Leipzig e morreu em 1716 em Hanôver. Foi importante
para o desenvolvimento da Metafísica e da Lógica, tendo-se distinguido ainda
pela invenção do cálculo diferencial e integral. O seu sistema filosófico é
pluralista, racionalista e optimista.
Quando, com a idade de quinze anos, entra na
universidade de Leipzig, cidade onde nasceu em 1646, Leibniz, que já dominava
perfeitamente o latim e o grego, era também senhor de um sólido conhecimento da
tradição escolástica, que nunca vai menosprezar nem esquecer. Não demorou a
iniciar-se igualmente no pensamento moderno, do Renascimento, assim como no de
Descartes, em cuja herança cultural a sua obra virá a inscrever-se. Defendida a
tese de licenciatura (em 1663), parte para Iena, onde se aperfeiçoa na
matemática e se dedica à história e ao direito. Ao regressar a Leipzig obtém o
mestrao em Filosofia (1664), com uma tese em que prova que as questões de
direito são indissociáveis das duas formas de discurso universal, a filosofia e
a lógica. Termina a formação jurídica em Altorf, perto de Nuremberga, onde
obtém o doutoramento em Direito (1666), com uma ttese intitulada De casibus perplexis in jure, que
fundamenta o recurso ao direito natural em muitos casos embaraçosos. A sua competência
vai ser notada por uma personalidade influente, o barão de Boyneburg, que o
introduz ao serviço do eleitor de Mogúncia.
Paralelamente, a sua Dissertatio de arte combinatória (1666), reabrindo uma via
anteriormente explorada por Raimundo Lúlio, esforça-se por reduzir a filosofia
a um cálculo lógico. É a sua primeira tentativa de construção de uma
«característica universal», ideia que jamais abandonará ao longo de toda a sua
vida. Trata-se de criar e de fazer funcionar o alfabeto dos pensamentos humanos,
de modo a unificar os conhecimentos existentes e a adquirir outros, com uma
fecundidade inesgotável. Tratava-se de sublinhar a evidência enquanto resultado
da harmonia entre o saber e um universo onde reina o princípio de razão
suficiente (tudo tem a sua razão de ser e tudo está interligado).
Esta harmonia é a da criação divina, onde nada
foi deixado ao acaso, onde uma escolha inteligente se revela a todos os níveis:
os fenómenos físicos explicam-se pela grandeza, figura e movimento, mas figura,
grandeza e movimento na sua interdependência efectiva não permitem de modo
algum prescindir de Deus. Muito pelo contrário, a natureza dá testemunho contra
o ateísmo (Confessio nature contra
atheistas, 1668). Leibniz, ao tornar mais precisa a noção de força e reelaborando
a de substância , refez o laço cortado pelos modernos entre corporal e
espiritual. Procedendo assim, acumula argumentos contra uma divisão de outra
natureza, a que separa a cristandade em dois blocos hostis. Leibniz, que
durante toda a vida permanecerá fiel ao Luteranismo, pretende trabalhar pela
reaproximação das religiões. Por exemplo, ao introduzir a sua teoria da
substância no centro do debate filosófico-teológico sobre a transubstanciação –
qual é a natureza da presença divina no sacramento da eucaristia? -, dirige-se
, desde 1671, ao grande Arnauld para o persuadir da compatibilidade de pontos
de vista aparentemente inconciliáveis. Há outra dolorosa divisão, a da
Alemanha. Está relacionada com o conflito religioso e com a supremacia francesa
de então. Leibniz, apesar de escrever em francês o essencial da sua obra, faz
apelo ao renascimentos cultural da sua pátria (principalmente ao preconizar a
criação de uma sociedade alemã das artes e das ciências). Por insistência do
eleitor de Mogúncia e de Boyneburg, encarrega-se de uma missão diplomática
ambiciosa: dirigir para o Egipto, portanto contra os Turcos, a sede de
conquista do Rei-Sol. O projecto fracassa logo que chega a Paris, em 1672. A
morte, um após outro, dos seus protectores vai permitir-lhe ficar nesta cidade
para se dedicar a trabalhos pessoais, o que se verificará até 1676
(interrompida e continuada por viagens a Inglaterra). Multiplica os contactos
com Arnauld, Christiaan Huygens, Malbranche, etc., lê os manuscritos de Pascal,
aprofunda o seu conhecimento do cartesianismo. As suas pesquisas matemáticas
estão bem encaminhadas e, depois de ter descoberto o cálculo diferencial,
inventa em 1676, independentemente de Newton, o cálculo infinitesimal, o que
deu origem a uma polémica de prioridade. Nomeado, neste mesmo ano,
bibliotecário e conselheiro do duque de Hanôver, leva a sua filosofia à
maturidade, sobretudo através do Discurso
de Metafísica (1686), em que distingue as verdades necessárias das verdades
contingentes no interior do entendimento e da vontade infinita de Deus. Ao
mesmo tempo, exorta os Alemães a «melhor cultivar a sua razão e a sua língua»,
continuando a trabalhar pela criação de uma academia das ciências (que será
fundada em 1700, em Berlim) e pela unificação das igrejas.
Escrtios em 1704, os Novos ensaios sobre o
entendimento humano respondem às teses empiristas de Locke (a sua
publicação, adiada por Leibniz devido à morte do filósofo inglês, só terá lugar
em 1765). Em 1720, no auge da sua fama, Leibniz responde com a Teodiceia a todas as tentativas de pôr
em contradição a religião e a razão. Justifica o mal existente demonstrando que
é necessário à harmonia do mundo, que é o melhor possível: optimismo
filosófico, que Voltaire, no Cândido,
maliciosamente se dá ao prazer de ridicularizar.A Monadologia, escrita em 1714 e publicada em 1721, após a morte do
autor, é uma obra-prima de concisão, onde se desenvolve a concepção de um
universo composto por mónadas, átomos espirituais que são os elementos
irredutíveis de toda a realidade composta. A obra não foi compreendida na
época, Leibniz só encontrou indiferença por parte dos seus contemporâneos, para
não falar na vingança do clero, que teve de suportar nos seus últimos dias.
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