Páginas

sábado, 20 de julho de 2013

rega. Observar, ver, reparar.

"Se  puderes olhar, vê. Se podes ver, repara" José Saramago in Ensaio sobre a cegueira

É uma grande frase. Uma grande lição, que nos pode ajudar a saber viver. A simplicidade de uma frase, dificilmente traduz a complexidade do mundo em que vivemos e a forma como vivemos. Por isso pode ser refutada e maltrada. No entanto a abertura desta frase, tão subtil, é suficientemente forte para se defender a ela própria.E é flexível ao ponto de a poder trazer até ao cuidado que presto às minhas árvores.


É claro que Saramago partilhou esta frase, para assinalar o egoísmo que impera na sociedade. A sede de poder, a necessidade de controlo sobre o próximo negligenciando o seu sofrimento. A incapacidade de cooperarmos nas adversidades e nos limites. A disfunção moral. A desculpabilização sobre os comportamentos ética e moralmente errados, desculpabilizados pela história filogenética do homem. "É a nossa natureza" dizem. "somos assim" sobretudo para saciar o próprio umbigo. "somos assim egoístas e selvagens podendo chegar a ferir o outro para manter o nosso bem-estar animal". Pobres de nós...

O Homem diferenciou-se pela sua inteligência, pelo seu desenvolvimento social, moral e ético, aquisições ímpares na Natureza. Encontrou na cooperação e solidariedade a chave para se tornar mais apto. O Homem é o ser com maior apacidade de aprendizagem no mundo em que habitamos. O Homem é capaz de aprender e integrar novos comportamentos, graças à capacidade de inibir e controlar emoções que o poderiam tornar violento, por objectos ou situações simples (tal como a satisfação sexual e alimentar). Aliás como está patente no Ensaio de Saramago. Conseguirmos partilhar, dar a vez, prescindir de objectos para outros em troca do seu contentamento ou bem-estar é o que nos diferencia de um qualquer bicho. O Homem tem de melhorar. O Homem pode aprender a viver melhor. Estas capacidades têm tradução em estruturas neurológicas recentes, que nos distinguem de outras espécies. Portanto não devemos ser mais evoluídos tecnológicamente, do que comportalmente. Isto é, não somos bestiais para umas coisas e bestas para outras. O mesmo é dizer, que não devemos ser maus, devemos ser bons, mesmo que isso nos custe por momentos porque isso será melhor para o todo. O Homem está na sua mão. Não está na mão de alguém que nunca ninguém viu. Depende de si e da sua consciência. E sempre assim foi. Não há desculpas. Temos de exigir de nós e dos outros o altruísmo, a bondade e se quiserem o amor. Enquanto assim não for... irão manter-se os disparates que hoje presenciamos.




Curiosamente esta frase também pode vir a propósito da rega de "bonsais". Desculpem se fui longe demais nesta ruptura. Escrever sobre algo tão complexo e de seguida, passar de imediato a falar sobre a forma mais correcta de regar uma árvore que está num vaso, é no mínimo parvo. Mas a frase de Saramago aplica-se perfeitamente. Porque o "bonsaísta" deve ter em mente que a rega não é uma receita. Não faz sentido admitir que um bonsai se rega de 5 em 5 dias ou diariamente.
O mais importante é observar a árvore, ver em que contexto se encontra e reparar no seu bem-estar. Reparar, estar atento, cuidar.

Um acto que deve ser diário passa pela observação, olhar e ver a árvore. Perceber que avaliação faz ela do tratamento/rega que lhe estamos a dar. A árvore fala connosco lentamente, pausadamente, mas diz-nos quase tudo através do seu tronco, dos seus ramos, das suas folhas. Fala connosco sobretudo através das suas folhas. Como símbolos tem a sua cor, a sua quantidade e a sua permanência.
Regar é um acto ponderado, cujo objectivo é manter o solo húmido para garantir a osmoralidade das raízes e consequente hidratação e alimentação da planta.

O bonsai tem de ter o solo húmido. Não encharcado. As árvores não gostam de água em excesso e poderão ser danificadas fatalmente por excesso de água. Assim deve-se evitar a utilização de pratos ou recipientes, que acumulem a água da rega. Do mesmo modo a escolha do vaso ou maceta, deve ter este aspecto em conta. Sendo importante, evitar pratos com concavidades, que permitam a acumulação de água que farão as raízes apodrecer ou favorecer o aparecimento de fungus prejudiciais á planta.
 Assim depreende-se que a rega por submersão é desadequada em árvores saudáveis e em solos equilibrados. Rega por submersão, consiste na colocação do vaso num recipiente com água, com uma profundidade suficiente para cobrir até metade do vaso. O vaso deve permanecer durante dez a quinze minutos submergido, ou até se perceber que o solo está suficientemente húmido. Este método de rega, pode ser indicado em caso de doença, em que a rega por aspersão seja desaconselhada. Pode ser útil sobretudo, quando o solo perdeu a capacidade de infiltração e drenagem. Neste caso, quando o solo atinge este ponto, e mantemos a rega por aspersão, poderemos ter a percepção que o solo fica húmido mas na verdade a água escorre para fora do vaso. Teremos assim, água disponível apenas à superficie, evaporando ou sendo absorvida rapidamente pela planta. Esta situação aconteceu com a minha Olea Europaea, a árvore de atenas, algo que a enfraqueceu. Depois de humedecido através desta técnica e após a árvore ter recuperado passei novamente à  rega por aspersão, com bons resultados, embora tenha de perder alguns minutos a regar só esta árvore.

A rega por aspersão, é o método mais indicado para bonsai. Esta é a forma mais simples e conhecida, sendo necessário apenas escolher um bom regador. Devemos regar toda a superficie do solo, podendo abranger as folhas. Devemos terminar a rega, quando a água estiver a escorrer através dos buracos de drenagem.



Normalmente aguardo que a água se infiltre, sem que escorra para fora do vaso, o que implica regar um pouco e aguardar. Depende do tipo de solo. Se for drenante, tal como acontece com solos 100% akadama o processo é rápido. Caso seja um solo com muita matéria orgânica, é natural que seja tudo mais demorado. Este é o caso dos bonsai vendidos em grandes superficies. São solos pouco drenantes, que conservam muita humidade mas quando secos ou velhos passam a ser um problema muito significativo.É mais difícil regular a rega nestes solos de má qualidade.

Devemos regar quando, ao colocarmos um dedo no vaso, não sentirmos humidade suficiente tendo em conta as condições atmosféricas. Por exemplo, no verão o solo, poderá ainda ter alguma humidade no período da noite, mas sei que aqui no Algarve, caso não regue o dia será difícil para a árvore, pois a meio da manhã estará tudo seco. No entanto no Inverno esta condição pode manter-se por vários dias, sem necessidade de regar.

Também poderemos fazer o "teste do pauzinho" que implica colocar um fósforo ou palito no vaso durante 15 minutos. Ao retirar se estiver húmido não haverá necessidade de regar, pelo contrário, se estiver seco necessita de rega.
 Pessoalmente prefiro testar com as nossas mãos, temos milhões de células nervosas especializadas na detecção da temperatura, dor, tacto e pressão, na palma da mão e dedos, podendo perceber se o solo está muito ou pouco húmido, ou seco.Assim percepcionamos melhor a condição do solo, podendo deduzir qual o melhor momento para regar.

Observem.













Sem comentários:

Enviar um comentário