Páginas

sábado, 13 de julho de 2013

Ficus Carica L. - Uma árvore das religiões

 Reino: Plantae
 Divisão:Angiospérmicas
 Classe: Eudicotiledoneas
 Ordem: Rosáceas
 Família: Moraceae
 Género:Ficus
 Espécie:Ficus carica

24.4.14

Parece que Adão evitou a nudez com uma folha de figueira... e não com a parra da videira. A Eva foi atrás e também afastou o pecado e a tentação com uma folha de igual origem. Como se sabe não deu resultado. Não terá sido boa ideia conferir a tais personagens peças de tão grande sensualidade.

Depois de demonstrar os seus poderes afrodisíacos, a Figueira resolveu dedicar-se ao outro pecado... e ofereceu Ficus a tão boa gente! Esta árvore alimentou muitos e bons povos desde o neolítico. Encheu a barriga a asiáticos, judeus, israelitas, romanos, árabes e lusitanos.

Há quem diga que Buda se pôs a pensar debaixo de uma figueira (talvez uma outra espécie de Ficus) e lá debaixo da sombra proferiu uns segredos importantes. Não sei se é verdade, talvez tenha para além de fazer algumas importantes dissertações também tenha segredado que secando o figo, juntar-lhe açucar, amêndoa, noz ou Alfarroba conseguiriam óptimas iguarias. Atendendo à figura de tal personagem... é bem possível.


Cá no Algarve é uma árvore que ocorre sobre grande parte do seu território. Gosto de ver as árvores nuas no Inverno (não podendo portanto vestir qualquer nú) mostrando os seus troncos acinzetados e torneados, os seus ramos entrelaçados que parecem querer agarrar-nos com braços longos e finos. A posição dos seus ramos mostram as danças com o vento. Pele velha de mãos frias do campo, com artroses que custam vencer com movimentos rápidos e precisos. 
Na primavera a sua figura magra e ríspida oferece-nos um verde escuro forte que salpica todo o barrocal. Dá-nos um fruto doce e sombra fresca... caso se tenha erguido do chão para formar a sua copa. Sem afecto... normalmente os seus braços se cruzam sobre o chão, fechando-se sobre si, oferecendo o fruto de má vontade mas reclamando a sombra para si. Também nos convida a pensar sob a sua sombra e a prometer dizer segredos a quem trouxemos connosco ou roubar um beijo sobre a toalha aos quadrados vermelhos de pic-nic.

Lá na Aldeia enquanto o sr. Padre dava a missa, eu estava mais os meus dois amigos Francisco e Artur a imaginar como poderíamos erguer uma baliza suficientemente realista, com postes redondos e de dimensões suficientes para que o espetáculo tivesse lugar. Era um pedaço de terreno sem pinheiros ou arbustos, ligeiramente inclinado. Terra cinzenta a desfazer-se em pó escuro. A baliza ficou lá no cimo, sendo a inclinação mais um adversário. Limitado pela estrada de gravilha abaixo, depois á frente espalhavam-se os lotes de casas. Á esquerda uma figueira entregue à sua sorte, guardando líquene nos seus ramos, dava sombra às capoeiras e coelheiras em mau estado feitas a tábua, pregos e rede segurando-se inclusivamente com a ajuda de algumas latas de tinta de 5 litros cheias de terra plantada com uma qualquer trepadeira que teimava em deixar-se feia. Pertenciam a um casal de idosos que se escapavam sempre às minhas vistas...
Aquela figueira assistiu à colocação dos postes e às partidas de futebol a três que ali tiveram lugar... nem sei onde desencantámos tais postes de madeira que se assemelhavam a postes dos fios telefónicos. A trave foi de mais difícil engenharia obtendo-se um resultado menos satisfatório uma vez que se tiveram de pregar tábuas rectangulares, que nasceram numa obra ali perto e por isso ainda tinham marcas de cimento. Postes e traves redondos com ângulos toscos e rectangulares. Penso que neste momento quem estava debaixo da figueira se riu do pobre resultado estético mas com grande repercussão funcional. Ao mesmo tempo decorria a missa, lá no cimo da Aldeia. A igreja pintada de branco com barras azuis para que espirítos e insectos ficassem do lado de fora, mantinha-se a namorar com o seu largo onde se realizavam os bailes de verão... pouco católicos diga-se... mas sempre assim foi... porque sempre houve Domingo... mas também sempre houve sábado.

Se existirem imprecisões históricas e religiosas no texto atrás redigido... perdoem-me. (A minha investigação é aquela que posso e me apetece fazer.)

A Figueira viveu sempre com o Homem... Entrou na sua vida.
A Figueira foi minha vizinha de infância... e agora me acompanha mais perto do que alguma vez pensei.


A Figueira é uma das árvores da minha vida. Por isso trago-a comigo e tentarei expressá-la em arte viva. Assim tentarei criar este Bonsai com toda a amizade que esta árvore merece.

Transplante a 14.2.2014



Esta jovem árvore foi colocada de estaca em Abril, quis ficar na nossa varanda. Ainda bem. Sempre se quis vida, energia e balanço. Sempre se desejou música, livros e crianças. Sempre se desejou conversas, quatro patas e jantares à luz das velas. sempre se esperou por lágrimas e sorrisos. Mas o mais importante é que sempre nos esperámos, mesmo quando nos retiraram as raízes e nos levaram para outro chão. o mais importante é que sempre nos esperámos.



Sem comentários:

Enviar um comentário