Reino: Plantae
Divisão:Angiospérmicas
Classe: Eudicotiledoneas
Ordem: Rosáceas
Família: Moraceae
Género:Ficus
Espécie:Ficus carica
24.4.14 |
Parece que Adão evitou a nudez com uma folha de figueira... e não com a parra da videira. A Eva foi atrás e também afastou o pecado e a tentação com uma folha de igual origem. Como se sabe não deu resultado. Não terá sido boa ideia conferir a tais personagens peças de tão grande sensualidade.
Depois de demonstrar os seus poderes
afrodisíacos, a Figueira resolveu dedicar-se ao outro pecado... e ofereceu
Ficus a tão boa gente! Esta árvore alimentou muitos e bons povos desde o
neolítico. Encheu a barriga a asiáticos, judeus, israelitas, romanos, árabes e
lusitanos.
Há quem diga que Buda se pôs a pensar
debaixo de uma figueira (talvez uma outra espécie de Ficus) e lá debaixo
da sombra proferiu uns segredos importantes. Não sei se é verdade, talvez tenha
para além de fazer algumas importantes dissertações também tenha segredado que
secando o figo, juntar-lhe açucar, amêndoa, noz ou Alfarroba conseguiriam
óptimas iguarias. Atendendo à figura de tal personagem... é bem possível.
Cá no Algarve é uma árvore que ocorre
sobre grande parte do seu território. Gosto de ver as árvores nuas no Inverno
(não podendo portanto vestir qualquer nú) mostrando os seus troncos acinzetados
e torneados, os seus ramos entrelaçados que parecem querer agarrar-nos com
braços longos e finos. A posição dos seus ramos mostram as danças com o vento.
Pele velha de mãos frias do campo, com artroses que custam vencer com
movimentos rápidos e precisos.
Na primavera a sua figura magra e ríspida
oferece-nos um verde escuro forte que salpica todo o barrocal. Dá-nos um fruto
doce e sombra fresca... caso se tenha erguido do chão para formar a sua copa.
Sem afecto... normalmente os seus braços se cruzam sobre o chão, fechando-se
sobre si, oferecendo o fruto de má vontade mas reclamando a sombra para si.
Também nos convida a pensar sob a sua sombra e a prometer dizer segredos a quem
trouxemos connosco ou roubar um beijo sobre a toalha aos quadrados vermelhos de
pic-nic.
Lá na Aldeia enquanto o sr. Padre dava a
missa, eu estava mais os meus dois amigos Francisco e Artur a imaginar como poderíamos
erguer uma baliza suficientemente realista, com postes redondos e de dimensões
suficientes para que o espetáculo tivesse lugar. Era um pedaço de terreno sem
pinheiros ou arbustos, ligeiramente inclinado. Terra cinzenta a desfazer-se em
pó escuro. A baliza ficou lá no cimo, sendo a inclinação mais um adversário.
Limitado pela estrada de gravilha abaixo, depois á frente espalhavam-se os
lotes de casas. Á esquerda uma figueira entregue à sua sorte, guardando líquene
nos seus ramos, dava sombra às capoeiras e coelheiras em mau estado feitas a
tábua, pregos e rede segurando-se inclusivamente com a ajuda de algumas latas
de tinta de 5 litros cheias de terra plantada com uma qualquer trepadeira que
teimava em deixar-se feia. Pertenciam a um casal de idosos que se escapavam
sempre às minhas vistas...
Aquela figueira assistiu à colocação dos
postes e às partidas de futebol a três que ali tiveram lugar... nem sei onde
desencantámos tais postes de madeira que se assemelhavam a postes dos fios
telefónicos. A trave foi de mais difícil engenharia obtendo-se um resultado
menos satisfatório uma vez que se tiveram de pregar tábuas rectangulares, que
nasceram numa obra ali perto e por isso ainda tinham marcas de cimento. Postes
e traves redondos com ângulos toscos e rectangulares. Penso que neste momento
quem estava debaixo da figueira se riu do pobre resultado estético mas com
grande repercussão funcional. Ao mesmo tempo decorria a missa, lá no cimo da
Aldeia. A igreja pintada de branco com barras azuis para que espirítos e
insectos ficassem do lado de fora, mantinha-se a namorar com o seu largo onde
se realizavam os bailes de verão... pouco católicos diga-se... mas sempre assim
foi... porque sempre houve Domingo... mas também sempre houve sábado.
Se existirem imprecisões históricas e
religiosas no texto atrás redigido... perdoem-me. (A minha investigação é
aquela que posso e me apetece fazer.)
A Figueira viveu sempre com o Homem...
Entrou na sua vida.
A Figueira foi minha vizinha de
infância... e agora me acompanha mais perto do que alguma vez pensei.
A Figueira é uma das árvores da minha
vida. Por isso trago-a comigo e tentarei expressá-la em arte viva. Assim
tentarei criar este Bonsai com toda a amizade que esta árvore merece.
Transplante a 14.2.2014 |
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