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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Se escolhe-se uma árvore para ti era claro a laranjeira. Citrus x sinensis

Reino: Plantae
 Divisão: Magnoliophyta
 Classe: Magnoliopsida
ordem: Sapindales
 Família: Rutaceae
 Género: Citrus
 Espécie: C. Maxima x C. Reticulata
 citrus sinensis


Não tenho nenhuma árvore digna de ti. Não sei se a terei um dia. Mas tive-te a ti e ao teu perfume de amor. E deste-me tanto, que ainda vives nestas flores das noivas. Estas flores são o teu sorriso em sonho de juventude, que vi em fotos tuas a preto e branco e continuaste a trazer nos olhos até ao fim. Vi-te as lágrimas amarelas, nas folhas dos teus Invernos. E que tempestades passas-te, para manteres os teus frutos em Primavera.

Brincas-te muito comigo. Eu lembro-me de voltares o sofá contra a parede, para ser jaula de zoo, autocarro e cama elástica de trapezista. Por cima ficava esta tela melancólica e parada... fazia parte de outras viagens. No teu quintal, onde também estava e está a sombra do limoeiro, as aventuras eram outras. E tu ficavas, como a maior árvore do mund, a olhar-me sorrindo. Só agora percebo que raízes são essas que levam açucar às flores da nossa alma.

 E os bolos, as batatas fritas, os bifes e o arroz. Os pratos que me perguntavas e eu pedia. O teu agrado por me ver bem. Arriscaria a tua felicidade e sentido.

Obrigado por me acompanhares e por me aplaudires. Por me defenderes como um tigre. Obrigado pelos teus beijos repenicados e pelatua saudade.

Sabes agora que o aconchego do teu perfume chegou a todos aqueles que amavas. E esse perfume de flor de laranjeira permanece.
um beijo para ti minha avó.





 Calçada de carriche

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Saiu de casa de madrugada;
regressa a casa é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira desengonçada.

Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue de afogueada;
saltam-lhe os peitos na caminhada.

Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.

Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa desarranjada;
coseu a roupa já remendada;
despiu-se à pressa, desinteressada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa é já noite fechada.
Luísa arqueja pela calçada.

Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.


António GedeãoTeatro do Mundo (1958)

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