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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Na distância de Outono

Porque não chovem as palavras no calor do teu verão? Quando vem o teu corpo em brasa, fundir-se no meu.
 Porque é que as palavras não têm a cor e o perfume da Primavera, quando me enches esta casa de ternura?
 E nem na chuva do Inverno, me ocorrem palavras de lareira.

é
no Outono da tua distância, que o vazio é preenchido por cada palavra de certeza de te amar. Caiem desesperadamente, à velocidade de uma folha arrancada pelo vento melancólico e frio. De todas as cores. Amarelas, castanhas, laranjas, vermelhas.
 Caiem estas folhas só na altura desta permanência do que já foi. Guardam-se nas raízes do silêncio, a energia da paixão que te deseja e a serenidade do chão do amor.

E neste bailado vertiginoso de uma folha, desejo os brotos de primavera e a água da tua fonte fresca no verão. Sinto até falta daquele inverno chuvoso à porta da velha amendoeira.

Foi este vento de Outono, que nos juntou na terra molhada. Volta sempre a saudade das nossas palavras. E esta dor nos nós das grandes raízes que fizémos crescer. Como nos podemos confundir tanto, com tanto amor.Como nos camuflámos na nossa casca, sem termos visto o que luz do Sol nos mostrava?
 Eu quero as curvas do teu tronco. Desejo-as. E a seiva da tua coragem que me leva naquilo que tem de ser a vida. E o teu bailado que me encanta, ao vento, à chuva, ao sol. Quero-te aqui. Que me caia um raio, que me divida ao meio, por precisar do Outono para te chamar, para te beijar, para te amar, para te escrever, para pedir que me perdoes o Inverno frio. Olha para os meus ramos nus. Vê como eles desenham um abraço que é só teu e têm a coragem de ficar completamente nus de tudo só por ti. Sagrada distância que nos separa. O espelho do meu sentir. Rompe a casca e golpeia-me tronco, que boa é a dor da certeza de te amar mais que tudo neste mundo.


No Outono encontrei a minha estação.








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