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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Olea Europaea L. - A árvore da Deusa Atena


 Reino: Plantae
Divisão: Angiospérmica
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Lamiales
Família: Oleaceae
Género: Olea
Sub-espécie: Olea Europaea L.

A minha primeira participação numa Exposição do Clube Bonsai do Algarve, Vila Real de Santo António, 2014


A árvore da Deusa Atena

O vento seco misturado com os raios de sol do mediterrâneo ainda não transportavam em si o pólen da flor da Oliveira. O ar batia-lhe na face de pele dura e queimada de batalhas, sem que um sobreolho se contraísse para evitar que demasiada luz lhe fizesse arder a retina. O ar é o elemento que o tem acompanhado nos combates, nas derrotas e nas vitórias que tornaram o Rei Cécrops poderoso e respeitado por aristocratas, pelo povo, pelos escravos mas sobretudo pelos Deuses que estavam lá no palácio de cristal do Olimpo. De face esguia, nariz marcado e com barba negra que lhe cobria as sombras das mandíbulas e encerrando o queixo. Tinha um tronco musculado e uns braços fortes de leme... o recto do abdómen bem delineado à imagem dos corpos olímpicos, ligava a parte humana à sua metade inferior cuja parte ventral tinha escamas rectangulares castanhas claras e atrás o corpo apresentava-se com escamas pequenas e verdes escuras. Metade homem, metade serpente… assim nasceu directamente da terra alaranjada e ferrosa. Percebia-se a força de tais pernas, que não o são, pela forma como se erguia do chão e se deslocava serpenteando de forma hipnotizante pelo mármore que lhe estava por baixo. Estava cansado da Guerra… e decidido a ouvir os sábios que ele próprio procurou e juntou e passar essa sabedoria ao seu povo. Tinha orgulho na sua cidade… pretendia realmente servi-la e para tal ensinou estas gentes a ler, a escrever, a cuidar da família como principal célula da paz, convenceu duzentas mil almas a não sacrificar humanos ou animais pois na sua religião os Deuses ficariam satisfeitos com o resultado de boas colheitas agrícolas e não com o sangue da 

carne de animais assustados. Sábio este Rei de “face com cauda” que é a tradução de seu nome…

Ali a cento e cinquenta metros acima dos mares de Posídeon o rei Cécrops, com o Pártenon vazio nas suas costas apreciava o ondular de cores e sons na Ágora. Deixou-se embalar naquele ruído de mercado que nos oferece pedaços de conversas e respectivas emoções, quando rasgamos estas multidões. Cruzamo-nos com conversas de ocasião, atentamos ao anúncio de um bom preço enviado desde a garganta forte do mercador, avaliamos as vestes e modas, comparamos preços ou cumprimentamos um conhecido que nos pergunta pela família ao que respondemos que está tudo bem e devolvemos a pergunta para despachar a conversa. Tocamos texturas de tecidos, cheiramos a fruta, evitamos o odor do peixe a não ser que nos apeteça comer pescado. Compramos algo e arriscamos um comentário sobre a polis ao mercador e ligada freguesia esperando encontrar acordos, desacordos ou talvez uma gargalhada. Levamos um bom troco que acaba com a conversa ou abre uma boa e cordial discussão. Assim é desde que há pólis... e aos poucos percebemos que faz parte de nós.



 O rei perdeu-se na ágora, por instante, sem sequer lá estar para se poder perder na sua magia que perdura até sempre. Metade homem, metade serpente... A sua presença no seio do seu próprio povo paralisava-o, congelaria a ágora como o medo detém o homem. Este Rei tem um lugar mais próximo dos Deuses do que dos humanos. Só a sua lança lhe faz companhia, os seus conselheiros, os seus escravos e as suas duas filhas.

Quis focar-se de novo no que interessava. Abanou a cabeça para afastar a atenção sobre a Ágora, encostou a fonte do seu crânio à lança, desviou o olhar para o teatro de Dionísio... Resvalou o cristalino em direcção ao cristalino mar, até á linha do horizonte marcada pelo sol de meio da manhã. Expirou... Estava preocupado com a sua própria criação. Acabara de criar uma pólis sobre um alto rochedo a fazer lembrar o Olimpo, com imponentes rochas, seguras por verdejantes arbustos ou árvores baixas, um feito de elegância que impressionou Deuses e se tornou difícil de tomar por inimigos impulsivos, mesmo que agressivos. Duzentas mil almas... Sobre sua égide. Sentiu-se pequeno, ergueu-se sobre a sua cauda anfíbia, abriu os braços,  estendeu o pescoço, mas já não chegava para abraçar a cidade e tê-la dentro de si.

No Olimpo a elegante e gigantesca cidade de Cécrops não passou despercebida. Os doze consideraram a obra e congratularam Cécrops, que nem por isso se sentiu apaziguado. O conselheiro que lhe transmitiu os doze diferentes tipos elogios alertou-o, e bem, que apontar um Patrono seria escolher dez diferentes iras divinas, uma vez que o poderoso Zeus tinha o mundo inteiro para governar e não deveria ter interesse em mais uma dor de cabeça. Por outras palavras… escolher um seria preterir onze e lá em cima a família não parecia ser dotada de grande humildade e generosidade.
Se hoje em dia, com tanto sacrifício não conseguimos satisfazer um Deus ou um Alá recebendo destes todas as crueldades que merecemos e não merecemos... Ter doze egos para insuflar e não ofender é algo cuja dificuldade é difícil de adjectivar.
 
Pela astucia que a estratégia bélica lhe impôs para sobreviver Cécrops desenhou algo que poderia resolver o impasse.
Que nem um Bouquet de noiva pensou “Lançar a cidade ao Olimpo e feliz o Deus que a apanhar”, um desenlace demasiado romântico para alguém que parecia tão frio. Ninguém estava à espera, mas assim ficou decidido. Virou costas à falésia e serpenteou Pártenon a dentro que mais lagartixa parecia do que uma víbora majestosa. No entanto quando ouviu gente moderou o entusiasmo e acautelou a sua pressa, pois Rei não se inflama, as suas decisões querem-se naturais e maduras surgidas de seguros teoremas e certezas.

Mandou sair as suas impertinentes e irritantes três filhas que sempre coscuvilhavam conversas, templos, casas, leituras, vidas alheias e coisas que mais e por isto ditaram a sua morte quando não respeitaram Atena e abriram a caixa que a própria Deusa enviou num futuro mais avançado. Reuniu dois sábios e um escriva. Expôs a sua iluminada resolução, esgrimiu argumentos a objecções de um conselheiro mais céptico e afagando a ponta da sua cauda escamosa aponta a lança ao escriva e “compõe isto em letras ó escriba”:
Com a vossa graça ergui esta pólis. Orgulho-me de vos ter agradado ó Deuses. Ofereceria esta cidade a todos vós, pois mais forças não tenho para erguer outras onze a estas iguais ou semelhantes. Concordais que esta, agora vossa pólis a muitos homens devotos ao mal gera cobiça. A prosperidade desta criação necessita de vossa dedicação, pois grandes desafios e dificuldades se destinam a este povo. Para que possa ter a certeza da vontade divina de proteger esta pólis e espíritos humanos nela contidos peço-vos, ó Deuses, que me façam abalar o espírito inventando algo que seja útil à cidade e a faça prosperar. A pólis será apelidada e oferecida ao vencedor.

Rei Cecropes
 
Doze cópias escritas doze textos foram lidos... Desarrumou-se novamente o Olimpo em altas vozes, em empurrões, em ventanias, raios e magias. Barulho, ruído. Tudo virado ao contrário. O Rei Cécrops concretizou o seu plano, virou Deuses contra Deuses aproveitando as sensíveis ligações e rivalidades familiares. Assim não se condenou a uma escolha, deu a escolher... Pior pediu para os seus Deuses demonstrarem devoção à cidade... Em vez da cidade se curvar perante os Deuses. Cá para nós, já era tempo de aprender com a história.

 

Olea Europaea 24.5.13




Dionísio estava intoxicado com vinho siciliano e passou a vez... A embriaguez e a confusão apenas lhe conquistaram um sorriso pouco expressivo e tonto. Balançado dormente encostou-se a um canto observando toda a cena até que o vinho lhe cerrasse os olhos. Zeus desdenhou... Subscrever funções aos seus descendentes e gerir as difíceis relações conjugais e extra-conjugais com a esposa Hera e suas amantes era suficiente para um Deus só. Por sua vez Hera apresentava-se com um terrível ataque de ciúmes e portanto este reboliço apenas lhe serviu para derivar a conversa para o que lhe interessava e chamar mais uns nomes a Alcmena mãe de Hércules.  Apolo amachucou a folha, Hermes deixou-a aberta no chão e esgueiraram-se os dois sorrateiramente para outro lugar pois Apolo prolongou a noite ardente do pai e Hermes guardou a porta da casa de Alcmena... Demeter deusa da terra cultivada, não viu grande potencial naquele solo rochoso, e se para Demeter não havia terra para semear para Artemis Deusa da caça e natureza numa pólis pouco haveria a fazer. Hefesto começou desde logo a esboçar invenções mas do fogo, ao ferro, dos ferreiros aos artesãos faltava-lhe a inspiração que diminuía à medida que Hera sua mãe atirava as suas pesadas invenções a seu pai, falhando feliz ou infelizmente o Rei dos Deuses ouvindo-se apenas os sons de cristal a partir e ferro a cair fundo no chão. Afrodite... Bem Afrodite sabia bem o que a noite numa cidade promete... Assim ficou-se pela jura de vaguear por essa cidade noite fora fazendo os amantes suar em ardente desejo, esgotando os seus corpos até caírem em si outra vez separados, saciados e consumidos... Prontos a arrefecer um pouco e depois se aconchegarem novamente em ternura ou se despedirem de um encontro ocasional. Pois bem... Se já fez contas sobram Atena, Deusa da Guerra, da sabedoria, da justiça, das artes e da habilidade que se sentou sobre a mesa, com ar sempre sério, sempre sereno. Poseidon, Deus dos mares e Ares Deus da guerra. Nestes três a discussão passional caiu ao poço. Ares olhou a irmã sentada à mesa... Já conhecia o seu olhar. Com os cotovelos apoiados sobre a mesa, tronco ligeiramente curvado, uma coxa debaixo da mesa tapada com a veste branca e a outra elegante e nua a sobressair para o salão. 'uma mulher.' pensou Ares pois sempre lhe pareceu e desejou que Atenas fosse um homem. Porquê? Porque desde que Atenas nasceu da cabeça do seu pai Zeus, já armada e com a égide que sempre a acompanha, Ares nunca a venceu. Por mais força, raiva e agressividade que Ares aplicasse na investida, a estratégia de Atenas sempre o subjugou. Assim, perante o interesse aparente de Atenas, Ares desistiu pois não pretendia outro desaire. Já Posídeon se retirou de imediato e se dirigiu confiante para o fundo do mediterrâneo. Tinha interesse naquela cidade linda, pois era o mar que a ligava ao resto do arquipélago e do mar dependeria o seu comércio e suas gentes. Inclusivamente ocorreram-lhe duas ideias fantásticas que iriam surpreender Cécrops e o seu povo... com os seus cabelos já grisalhos mas ainda ondulados e compridos pelo meio das costas, tronco e braços de nadador de fundo mergulhou. O mar acalmou, ficou 'chão' mantendo ondas de apenas trinta centímetros junto à costa, deixando os pescadores carregarem de pescado os seus pequenos barcos. Posídeon estava calmo e concentrado, o tridente estava a seu lado e as suas mãos a delinearam as oferendas para Cécrops.
Atenas lembrou Posídeon, pensou-o, estudou-o... A sua irascibilidade que faz mudar correntes e marés à mínima contrariedade, a sua força e as suas origens... Sabia logo que Posídeon não se ficaria por uma surpresa pois a impulsividade impede-nos de sermos certeiros à primeira e portanto torna-se costume emendar a borrada deixada num primeiro e triste episódio. Depois voltou-se para a cidade, mediu o vento, a chuva, olhou para o chão e cheirou a terra. Reparou que não era lugar para Demeter ou Artemis... Olhou aquele povo... Metade escravos... Poucos aristocratas claro... Mercadores... Agricultores...

Admirou Cécrops… era um homem mudado, era um homem bom e que queria bem os seus. Agarrou um punho de terra elevou o braço e deixou por entre os seus dedos que a terra volta-se ao seu lugar levando o vento alguns grãos. Selou o raciocínio, traçou o plano de vitória.
Não se pense que demoraram meses, semanas ou dias. Estamos a falar de divindades com muito por inventar ainda. Numa questão de poucas horas chegaram junto ao Pártenon e à beira do Rei.

Cécrops colocou a sua voz 'vejo que apenas dois Deuses que pensam merecer esta valiosa cidade. Que me trazem vocês?'

Posídeon nem hesitou. Bateu com o tridente no mármore com ar sobranceiro e do chão se ergueu uma enorme e belíssima fonte de vários andares com água a correr veementemente como se de um rio se tratasse. 'Cécrops ofereço à cidade a fonte e a sua água para matares a sede às tuas gentes e regares estes campos secos.'
O rei metade cobra, ficou impressionado! 'Excelente ideia Deus Posídeon e tão bela arquitectura, tornará qualquer praça num local de culto' ao mesmo tempo que levava as suas escamas em direcção à oferenda do Deus dos mares. Debruçou-se sobre o primeiro patamar da fonte, do tamanho de um grande lago artificial, água translucida, fresca... Provo-a... E cuspiu a água! 'Água salgada? Que sede mata? Que campo rega?'
No mesmo instante os olhos Garços de Atena franziram-se sorrindo... E apontou a sua lança ao chão. Presa no mármore… transformou-se numa robusta Oliveira que à medida que robusto tronco engrossava rasgava o mármore. Gerou uma copa generosa, frutos negros e verdes escuros espalhados pelos galhos... Começando a descrevê-la 'Cécrops... Nesta árvore que morrerá daqui a milénios, mesmo neste pobre solo rochoso, irá oferecer madeira aos teus artesãos, alimento às tuas gentes e um óleo que será combustível e cura para doenças' recolhendo alguns frutos esmagou-os entre seus dedos escorrendo o óleo da cor do ouro. Cécrops ficou com o espírito arrebatado. Rendido... Sentiu que tinha duas pernas e desceu da sua altura para provar um fruto que um sábio recolheu e lhe trouxe. Posídeon do outro lado não se rendeu, mas também não surpreendeu Atena como já esperávamos. Desta vez quando bateu com o tridente no chão, nas suas costas surgiu um cavalo castanho de crina comprida e negra assim como a sua cauda, naquilo que é a imensidão da beleza e potência do animal no seu galope avançou em fúria em direcção a Cécrops. Posídeon apresentou a sua invenção: 'Aqui está um animal elegantíssimo a que eu chamo cavalo'. Mas o bicho era selvagem, relinchava e comportava-se como besta que era, completamente incontrolado e em vez de fazer aproximar Cécrops para melhor admirar a criatura, este teve de dar alguns passos atrás mas como não tem pés passos não pôde dar claro está. Agitação completa a fazer lembrar o Monte. Atenas estava serena aproximou-se da Oliveira, partiu um galho flexível, arqueou-o e transformou-o num bridão e suas rédeas. Empoleirou-se num ramo mais forte e alto da Oliveira e num tempo e espaço que não podiam ser outros, saltou para cima da besta enlouquecida colocou-lhe os aparelhos e domou o cavalo.  Num elegante trote deu meia volta ao cavalo e levou-o até Cécrops. 'ofereço-te o animal que Posídeon inventou e os direitos de autor não os quero, mas agora domado e pronto a obedecer às tuas direcções mantendo a plena força e punjança que o Deus dos mares lhe concedeu. Estará se assim o quiseres às tuas ordens nos campos de cultivo ou nos campos de batalha se a tua sabedoria e sede de paz não for suficiente para a evitar'. Cécrops tinha tarefa facilitada como todos imaginam. O Pártenon  recebeu o culto a Atena e a cidade baptizou-se de Atenas em honra à sua Padroeira. Seu símbolo é a Oliveira e a coruja que sempre acompanhou a Deusa. Posídeon enfureceu-se a derrota fora estrondosa... e como já atrás foi escrito Deuses em fúria é maldição que se avizinha. Gente cruel esta que vive nas alturas. A partir do mar fez reduzir rios e afastou nuvens mergulhando a cidade em grande período de seca. Ainda não satisfeito e ainda amuado das profundezas empurrou o mar para o céu e fez cair o dilúvio sobre a terra de Atenas… Pelos vistos… terá sido por esta zanga que Noé se perdeu pelo mar alto. Felizmente Atenas já tinha criado a Oliveira, para que o pombo que Noé libertou voltasse ao sétimo dia com um ramo de Oliveira carregado de Esperança.

Sábio era Cécrops… imagine-se estes desastres multiplicados por dez. De Deuses e suas crueldades estamos conversados.

Esperança vai sendo o que nos resta…
Que seca não de água... Mas de sabedoria atravessa agora esta cidade. Estará cansada a filha favorita de Zeus? Ou furiosa com a insubordinação dos seus aristocratas nada sábios diga-se, injustos e desonestos sublinhe-se, pouco dados a artes e cultura lembre-se, esquecidos que a vida é feita de gente e as gentes são árvores com as raízes nas suas famílias.  



Estes caracteres são cores, que dão vida a um mito… a uma lenda. Espero goste das cores pois não me preocupei a pintar dentro das linhas.


6.3.2014




Transplantada para novo vaso. O anterior era péssimo... e o solo estava impróprio. Planos para um estilo Hokidachi. Outubro de 2013




Foto mais à esquerda em Fevereiro de 2013, enfraquecida devido a cochonilhas. Ao centro a 17.8.2013 e após poda de manutenção.





17 Agosto 2013


Olea Europaea em final de Abril de 2013 após corte de Flores, galhos secos a fim de conferir mais força à árvore. Tratamento com Dursban e Sabão Potássico.







Olea Europaea em Fevereiro de 2013. Arames mal colocados... e a sofrer as consequências de duas espécies diferentes de Conchonilhas.

11.2.2008






25.4.2008


5.1.2008


25.11.2007

10.7.2007





10.7.2007 após compra no viveiro e vaso actual.


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