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terça-feira, 7 de maio de 2013

Citrus x sinensis - uma laranjeira vinda da china

Reino: Plantae
 Divisão: Magnoliophyta
 Classe: Magnoliopsida
ordem: Sapindales
 Família: Rutaceae
 Género: Citrus
 Espécie: C. Maxima x C. Reticulata
 citrus sinensis

16.6.14 Deixo os ramos alongarem para engrossarem e ganharem conocidade. Na procura de conferir mais movimento ao tronco, eliminei um ramo, que permitia desenhar um Hokidachi. Agora deparo-me com dificuldades em conseguir proporções entre a largura da base e a altura. A altura está longe da proporção de 1/3 da base e mais longe ainda de 2/3. Por outro lado, não há movimento inicialmente. 



Uma Laranjeira vinda da China



Reza a lenda que...

tinham deixado à largos dias o Sião, seu sultão e seu povo nos seus estranhos costumes e modos de estar. A tripulação a mando de Jorge Alvares, seguia tão confusa quanto encantada com uma gente tão consistente e impenetrável na sua identidade. Jorge Álvares tornou a sentir o balanço da carraca de velas já cansadas e rasgadas de sol, mar e de tanto sal. Mas o que lhe enviesava a visão e a vertical do seu baixo corpo era o medo e respeito que aquele imenso e disciplinado exército lhe fez novamente sentir, com homens a comandar homens e homens a comandar elefantes que desfilavam de uma forma tão sincronizada que parecia tratar-se de um jogo de espelhos. Pensou para si próprio que lhe valia a coragem e dedicação dos seus homens, caso contrário estaria já esmagado nas profundezas do mar ou da terra.

Ao seu lado Carlos Fonte analisava permanentemente os movimentos que rodeavam os três mastros da embarcação. Desde que tinham levantado ferro do Sião tinha notado o seu comandante mais calado e reflexivo. Nem desconfiava que o medo lhe tinha passado de raspão na pele, pensava que estaria mais preocupado com as difíceis negociações que se conseguiam estabelecer com estes povos de olhos estreitos.
Interrompeu as indagações que fazia sem voz, porque se iniciava uma discussão no porão. Ao sons das vozes altas de marinheiros a arregaçar as mangas para o que desse e viesse, desceu rapidamente a escadaria e com um grito tudo se pôs em sentido menos os dois homens que se pavoneavam com peitos altos e empurrões. Era novamente Ricardo Freitas... um jovem que embarcou em silêncio e que a cada onda se julgava capaz de contornar o Boa Esperança sozinho num barco a remos. Desta vez, arranjou maneira de roubar umas castanhas ao pobre João Pequeno que em alto mar só metia respeito à passarada que por vezes aterrava no convés.

Carlos Fonte desistiu de determinar nova limpeza do convés a Ricardo Freitas... seria meia légua para novo trinta e um. Determinou assim que ficaria a bordo, quando Jorge Alvares pisasse terra firme.
Terra que não tardou muito a encontrar... pois do Sião ao Rio da Pérola a Costa está sempre bombordo. A Terra estava rasgada, esventrada em forma de Delta Rio que se confundia com um mar.

Os quatro jesuítas João, Tomé, Joaquim, José desenharam com o polegar a cruz de cristo na testa.
José perguntou a Tomé se João não deveria ficar a bordo, atendendo ao seu número reduzido de rezas que não poderiam ser as suficientes devido à idade para completar tão difícil missão. Tomé responde que a missão que traziam para espalhar a mensagem do Senhor, custasse o que custasse, seria mais fácil com mais missionários em Terra, do que com missionários a contar gaivotas a partir do convés ou a gastar latim, que era já uma língua tão morta para os marinheiros quanto a vontade de rezar.

João estava entusiasmado por poder cumprir os destinos que o Senhor lhe foi segredando aos ouvidos e ao mesmo estudar os costumes daquelas gentes, conhecer-lhes os ritos e tradições a fim de lhes dar um significado mais cristão... - assim como a história do ovo da Páscoa e seu coelho?! Mal contada a história... mas lá pegou e mais histórias haverão para contar sobre estas santas artimanhas. - Comentava justamente estas vontades com Joaquim que vinha desiludido e desencorajado do Sião, terra onde não admitiram ingerências papais, nas energias equilibradas da natureza e seus respectivos Deuses.

O tempo era quente e húmido... mesmo assim um pouco mais fresco que em Terras mais a Sul. A Carraca foi descobrindo o Delta e Jorge Alvares decidiu atracar numa Península que se transformava num bom-porto natural. Na Baía de Á-Ma onde avistaram uma cidade à ponta da península, a carraca feita também com Quercus descansou finalmente as suas madeiras lusitanas.

Jorge Alvares ordenou que se prepara-se as oferendas para os indígenas que ameaçavam ser tão ou mais existentes que os vizinhos de baixo. Carlos Fonte acautelou o seu pedido verificando sobretudo a quantidade e a qualidade da mercadoria que seria oferecida. Os missionários rezaram pela ultima vez a bordo, pedindo ao Senhor que os acompanhasse... - pergunto-me para quê, se o Senhor está em todo o lado... mesmo no fim do mundo ele lá estará a acompanhar-nos... enfim ritos... - Já Ricardo Freitas movimentava-se como um tigre enjaulado, fitando Carlos Fonte de soslaio que apenas com um abanar de cabeça e olhar fixo nada hesitante lhe dizia... "não rapazinho, tu ficas, tu vais ficar.". Veremos se a irreverência de Ricardo não é suficiente para arriscar uma aventura em Terras desconhecidas, por uma refeição farta ou uma mulher rendida à sua juventude.

Toda a cidade parou quando avistou a nau... claro que já esperavam esta gente de olhos redondos, que só pela sua presença já estavam a incomodar na Índia e no Sião. As palavras são certamente mais rápidas que o vento... e se é o vento que sopra as velas empurrando a madeira cuja quilha rasga o mar naturalmente que os chineses tinham descoberto primeiro os portugueses do que o contrário. Mas a bem do orgulho nacional, deixemos os êxitos e créditos cartográficos a quem de direito.

A pacata cidade que se envolvia na sua Natureza envolvente como que nela mergulhada, ficou no entanto apreensiva e em silêncio, preparou com o conselho do governador, também um conjunto de oferendas aos forasteiros. Preparou-lhes estadia, que desejava curta, no seu palácio.
A seu lado o Governador tinha o seu conselheiro militar e um conselho espiritual um velho, de bigode fino sobre o lábio superior e uma pêra em forma de ponta de lança a apontar para o chão. Vestia um traje comprido com mangas que lhe escondia as mãos de sábio. Não era o seu corpo firme e postura correta que permitia adivinhar-lhe a idade, era a sua pele marcada pelas rugas e o seu olhar já cansado de conhecer o Homem. O Governador... fez uma pergunta: Recebemos esta gente na nossa cidade? Para quê? O velho respondeu numa frase "Há que esperar o inesperado e aceitar o inaceitável" E os três mergulharam no eco destas palavras e no silêncio daquelas paredes.

De forma espontânea formou-se um corredor ladeado por locais, curiosos por vislumbrar gentes de outras paragens. Assim que Jorge Alvares e Carlos Fonte pisaram aquela terra... os dedos dos indígenas aproximaram-se do nariz. Conceitos de higiene antagónicos é certo... mas o número de dentes na boca parecia dar um empate, nada melhor que arranjar um ponto comum para encetar uma relação.
Jorge Alvares, Carlos Fonte e outros sete marinheiros que carregavam a mercadoria eram seguidos pelos missionários que formavam uma fila, sempre em último e devagar como quem não quer nada dali. Lá avançavam pelo corredor que se formava até ao palácio sem esforço, mas a espreitar qualquer movimento que pudesse trazer violência .

O conselheiro espiritual do governador fez apenas um pedido... deixai-os provar "cheng". Para fazer negócio? perguntou o governador. Não, para os conhecer - respondeu o velho assim... sem ponto final.
Na sala onde os portugueses foram recebidos, encontravam-se guardas a decorar as paredes mais compridas da sala rectangular, separados milimetricamente à mesma distância, dispostos na mesma posição e armados com espadas que faziam engolir em seco. Em gestos e mímicas... lá se se compreendeu que os Chineses ali mandavam e pretendiam continuar a mandar, ganhavam e iriam continuar a mandar e ao que parece as coisas não mudaram muito. Depreende-se portanto que os gestos não terão sido totalmente amistosos. Foram sempre sobranceiros e altivos, não muito diferente do que aconteceu no Sião.

Desconfio que com estes mesmos gestos de tradução empírica tivessem convidado à prova dos frutos laranja. Hesitaram os marinheiros supondo um possível envenenamento... Jorge Alvares... avançou sem medo com um passo de líder nato. Mas Carlos Fonte segurou-o com punho forte pelo cotovelo e olhou para um dos seus homens como que apontando e disse: Manuel... avança come aquilo. O homem franzino avançou a medo. Se fosse no meu tempo pensaria que era uma roleta russa, cinquenta cinquenta, fifty fifty, mas como ainda não havia revolveres na sua imaginação, apenas pediu que o Senhor estivesse com ele.
À sua frente uma cesta com laranjas... laranjas... Em Portugal ainda não se pronunciaria tal nome de cor... de laranja.

Um homem que estava à frente das oferendas, pegou numa laranja:
- Cheng, Cheng, Narhang! - exclamou o criado encorajando o homem baixo, com barba por fazer e lábios gretados vindos de todos os ares do Oceano. Hesitou em aceitar o fruto. O homem de pele mestiça ainda jovem, com a cabeça tão lisa como a face, insistiu esticando o cotovelo com a laranja quase tocando o marinheiro e assentindo com a cabeça acompanhando o gesto com um sorriso que se traduzia num 'vá podes confiar, prova.'
O Manuel, marinheiro de vários Oceanos receou morrer asfixiado com os olhos a saltar das órbitas. Fechou os olhos e com boca aberta de coragem rasgou dois gomos ao meio, o sumo ácido e doce ardeu-lhe nas fendas da mucosa e de seguida escapou-se pelo canto da boca, mais devagar pelo queixo dançando a aguadilha nos pêlos da barba até manchar a gola branca suja da sua camisa mal arranjada e revirada pelo vento na esperança de encontrar rápida as mãos e o cuidado da sua mulher.
- Cheng, Cheng? nharang! nharang? - esperando a aprovação daquele estranho.
- Laranj? laranja... é bom senhor! - voltando a trincar com paixão o fruto... que o seu corpo pediu como uma forte tentação... Gotas grossas caíram no chão... por todo o lado a mão esquerda pegou noutra laranja ainda não tinha terminado a primeira. O Conselheiro do Imperador deu passos vagorosos na direcção do banquete. Não retirou os olhos do chão, nem as mãos saíram debaixo das longas mangas. Observou as gotas no chão e virou as costas aos portugueses. No mesmo passo de convento, passou pelo Governador murmurando para que o outro ouvisse "Tentação e desequilíbrio, não haverá famílias em paz" e abandonou a sala. O imperador não hesitou. A tarefa estava cumprida e a opinião do Conselheiro foi só um empurram na sua vontade. Negociar e desejar os estranhos no caminho de volta.
Mandou retirar os forasteiros da sala e acomodá-los nos seus aposentos. Não for precisos mais gestos, todos ficaram a saber que no dia seguinte Jorge Alvares se encontraria para negociar as mercadorias e a estadia seria curta.
Os Jesuítas tentaram ser recebidos e ouvidos... insistiram para entrar de "mansinho", mas não foram aceites, talvez porque no Sião não deixaram boa fama. Os Homens do Senhor saíram em fúria através de um jardim e Joaquim... o feroz missionário num golpe digno de Baal Zebul precipitou um pontapé num laranjeira de médio porte quebrando o seu tronco ao meio. A ponta ficou aguçada em direcção à morada de Deus a indicar o caminho que os Santos devem levar. João o Missionário mais novo deixou-se ficar pelo jardim minimalista a observar plantas e a estudar quem passava para que os seus registos fossem dignos do que os seus olhos viam.

Ricardo Freitas ainda não descansava mesmo depois do sol se ter mandado para lá do horizonte. Veio até ao convés... ainda conseguia perceber a silhueta da cidade, da montanha... de uma mulher. O vento trouxe-lhe um perfume nunca antes sentido... as laranjeiras estavam em Flor e se ele soubesse a sua imagem, teria imaginado a mulher em lençóis brancos como as suas pétalas. Decidiu ir a Terra. Rompeu outra vez as regras... e quando vamos noutra vez é porque já houve primeira e portanto é um hábito... um costume... algo que se repetirá e repete até que o sentimento de culpa se vai desvanecendo. Na cidade... andou mais na penumbra, mais escondido pelas sombras sem dar nas vistas. Para se ser livre, não se pode ser estúpido.
Ao longe viu uma mulher, branca, elegante com um perfume igual ao que o vento lhe trouxe. Queria ver-lhe a face escondida por entre os ombros e passos curtos e rápidos. Porquê? feitiço? não sei. Seguiu-a... a rua foi alargando depois estreitando novamente, entrou por um portão consideravelmente grande e ouviu outros passos pesados, parou a perseguição. Quando os quatro pés se deixaram de ouvir deparou-se com o portão fechado. A curiosidade de Ricardo era veloz. Ignorou o perigo, pôs Carlos Fonte e Jorge Alvares no bolso... encontrou uma trepadeira junto ao muro que contornava a grande residência e não era muito alto e venceu-o com astúcia. Um jardim vazio... mas um jardim. Um jardim que tinha poucos esconderijos mas alguns. Poucas plantas mas tinha tudo o que um Jardim precisa para ser belo. Viu a mulher passar por um caminho estreito, desenhado com calhaus rolados brancos... inspirou fundo... outra vez o perfume da laranjeira. Perdeu a cabeça, arriscou e correu...

A seguir ao sétimo passo o perfume intensificou-se... parou no ar entrou-lhe pelas narinas e empurrou todas as costelas para fora. Ele sufocou, parou. Colocou as mãos sobre os joelhos sem ar, sem força... A mulher voltou-se para trás num instante. Era muito bonita, a pele macia, os traços subtis dos olhos rasgados, uns lábios rubros e um cabelo escuro e liso. Uma cara atraente, exótica. Ricardo quis falar... mas a mulher colocou-lhe a mão sobre o peito, como quem pede para não dizer nada.

RICARDO! gritou João o jovem missionário que ainda por ali analisava o jardim fazendo apontamentos para botânica. RICARDO! e correndo para o jovem. João assustado... em pânico...

Outra vez o perfume invadiu Ricardo quando os seus olhos deixaram João e fitaram novamente a mulher. Perdeu-a com um contraluz forte, perdeu também o equilíbrio... deu um passo atrás afastando-se da mão feminina ensanguentada... uma seta perfurou-lhe o peito e subjugou-o de joelhos. As pedras brancas tornaram-se rubras... RICARDO! E outro vazio... no som. Guardas aproximaram-se com os gritos de João... correram para ele empurrando-o para o deitar sobre o solo mas a queda fora sobre o tronco de laranjeira que Joaquim quebrou com Ira, trespassando-lhe o tronco.
As pedras brancas... tornaram-se rubras e assim ficarão.

Na manhã seguinte a tripulação portuguesa recebeu um vaso com uma estaca de laranjeira, Ricardo e João tinham atacado a mulher do Governador e sofreram as consequências. Não havia em Jorge Alvares loucura que desse marcha à revolta e vingança. Não houve negócio. Por ordem do Governador voltaram compulsivamente para a sua Nau com destino traçado... A laranjeira brotou forte... e chegou a Portugal carregada de laranjas... em Hindi Nharang... em chinês Cheng. Talvez por isto a Laranja nos caia no estômago tão mal em horas tardias... tal como caíram Ricardo e João. Por 1513 sabe-se que dois jesuítas morreram na Península de À-Ma Gao (Baía de Á-Ma Deusa do Ceú protectora dos pescadores e marinheiros)... aqui se fica a saber que um era missionário, outro marinheiro. Assim reza a lenda...

Por todo o mediterrâneo se espalhou a laranjeira, uma árvore híbrida resultante do pomelo (citrus maxima) e da tangerina (citrus reticulada) que terá tido a sua origem na China ou Sudeste Asiático. Por isto em alguns destes Países do Sul da Europa... Laranja pronuncia-se em grego - portokali em turco - portakal, em romeno é portocala e portogalloem diferentes dialectos italianos.
Mas só em Portugal a laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata.









Os citrinos, como se viu, são árvores oriundas de climas tropicais e sub-tropicais. Como tal, deve evitar-se a exposição ao frio sobretudo a geadas. No Algarve apreciam manter-se no exterior.
O solo deve secar entre as regas. A adubação deve ser generosa na Primavera e Verão. A poda de manutenção é indicada nas estações da Primavera, Verão e início do Outono. Cumpre-se o crescimento de 6 a 8 folhas, deixando apenas as 2 primeiras.

12.10.13


19.9.13

17.8.13


A 24.4.2008
6.10.2008



1 comentário:

  1. Este misto de dar a conhecer a árvore e a lenda/ história que a ela está associada parece-me uma ideia genial.

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