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sexta-feira, 3 de março de 2017

hoje não



acabei de deixar a cozinha pronta para amanhã. Obssessões... Para elas amanhã a cozinha estará, como sempre está: Pronta para o pequeno-almoço, para pousar um caderno de desenho ou para um bolo que a mãe resolveu fazer.
choveu hoje durante todo o dia, as árvores nao precisam de água. Hoje basta olhá-las. Vejo os anos que têm passado e o que ainda há a fazer.
não ligo a televisão, por hoje chega de barulho. Abro uma cerveja. Brindo a mais um dia. Há uma luz numa ou outra janela, um ultimo cigarro fumado à janela no sexto andar do outro lado da rua. É um símbolo. Aquele cigarro é a minha cerveja que diz: terminou, por hoje está feito. Não foi mau, mas demasiado rápido. É sempre demasiado rápido.
amanhã por esta mesma hora vou baixar a copa da macieira, retirei o arame muito cedo. Podia fazê-lo hoje. Mas nao hoje nao.
primeiro vou beijar a minha esposa, abraçar as minhas filhas. Depois vou ajudar uma senhora a recuperar a capacidade para andar, após ter sofrido um AVC. Vai correr bem, tem apreendido bem as estratégias motoras e contribui para que controlasse o medo e a ansiedade. Depois disto é mais fácil que a cognição focalize. Mas à distância de uma noite tudo parece fácil. Tudo está sob controlo. Não está nada. Isso é da cerveja, do cigarro e da contemplação do que é mais simples. Hoje não. Hoje não treinei, hoje nao liguei a tv, hoje não toquei nas árvores. Hoje nao li um livro. Fiz o que me apeteceu cuidei-vos e depois parei. Tudo isso.

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