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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Aristóteles - Fragaria Vesca



Aristóteles

Fragaria Vesca (morangueiro Silvestre). Passada para vaso de Miguel Neto. (28.2.15)


Filho de Nicómaco, médico de Amintas II, rei da Macedónia, nasceu em 384 a. C. na cidade de Estagira. Tendo-se destacado precocemente por uma argúcia invulgar, foi enviado para Atenas a fim de concluir os estudos na Academia Platónica, onde permaneceu durante cerca de 20 anos, até à morte de Platão, de quem foi discípulo. Acreditando numa tradição hoje duvidosa, as suas relações com aquele ter-se-iam revestido desde cedo de alguma conflituosidade. A verdade é que o sistema aristotélico, embora tributário da distinção matéria/forma introduzida pelo seu mestre, foi concebido, em grande parte, como reacção ao idealismo platónico, em particular contra a teoria das ideias e o dualismo ontológico que lhe subjaz.
Evidenciando esta oposição entre os dois sistemas, Aristóteles fundou em 335 a. C. o Liceu, escola concorrente da Academia, embora funcionasse de maneira diferente.  A Academia de Platão onde se ministrava o conhecimento através do método peripatético, enquanto que Aristóteles preferia compartimentar cada área do conhecimento.
Para Aristóteles, todo o conhecimento deve ter como ponto de partida o mundo material, pelo que a essência das coisas não pode, senão ilegitimamente, ser colocada numa instância transcendente, separada da natureza. Assim, considera a substância (ousia) imanente aos próprios entes, como um composto de matéria - enquanto elemento passivo e determinado - e forma - elemento activo e determinante, princípio de inteligibilidade e universalidade (hilemorfismo). Na matéria, a essência tem apenas uma expressão virtual (ou potencial), só adquirindo «realidade» (isto é, actualidade) em virtude da acção da forma. Com esta doutrina, além de superar a artificialidade da cisão operada por Platão entre o mundo inteligível e o mundo sensível, Aristóteles transpõe para o seio da própria substância toda a dinâmica do devir, agora interpretada valorativamente.
Por considerar a substância não como algo absoluto e estático, mas em permanente desenvolvimento, foi conduzido ao estudo das condições em que ela se opera, tendo ficado famosa a sua teoria das causas, que dividiu em quatro tipos: a formal («a noção» prévia, o plano da mudança), a final («a finalidade», o objectivo da mudança), a eficiente («de onde procede» a mudança) e a material (aquilo que muda).
No mundo, o desenvolvimento processa-se entre dois limites: a matéria pura - ou potência pura, totalmente informe (limite inferior); e a forma pura - acto puro, ou Deus na acepção aristotélica, o ser por excelência, plenamente actual, causa final para o qual tudo se orienta (limite superior).
Da metafísica se conclui que o núcleo inteligível e universal da substância é a forma substancial, elemento que está na origem do conceito e, assim, se constitui como objecto da ciência. Embora reconhecendo a importância da indução no desenvolvimento do conhecimento, Aristóteles reserva para o processo dedutivo o papel fundamental, tendo sido o primeiro a investigar de um ponto de vista estritamente formal os princípios gerais do raciocínio válido (verdadeiro). A Lógica, produto dessas investigações, foi por ele considerada como um estudo preliminar (ou uma  propedêutica) relativamente à filosofia, apresentando-se pois como método (Organon) a que têm de se submeter toda a explicação e demonstração científicas. A teoria do silogismo tornou-se o instrumento mais perene da lógica aristotélica, tendo permanecido praticamente inalterada até ao séc. XIX.
O silogismo é definido como «um discurso no qual, sendo dadas determinadas premissas, uma conclusão delas distinta se infere necessariamente».
Na sua forma mais elementar tem a seguinte estrutura: «se a é afirmado de todo b, e b de todo c, necessariamente a é afirmado de todo c».
O exemplo clássico de silogismo é o seguinte:
(1) Todos os homens são mortais.
(2) Sócrates é homem.
(3) Logo, Sócrates é mortal.
As proposições (1) e (2) são as premissas; a proposição (3) é a conclusão. «Mortal» é o termo maior (predicado na conclusão) e «Sócrates» o termo menor (sujeito na conclusão). «Homem» é o termo médio, que surge em ambas as premissas e desaparece na conclusão.
No que respeita à Ética e à Política, Aristóteles, espírito pragmático, afasta-se mais uma vez dos modelos ideais e intelectualistas de Platão e considera que quer uma, quer outra têm um fim essencialmente prático, visando promover a felicidade humana (eudemonismo). Na esfera subjectiva, o indivíduo deve agir livre e
responsavelmente em conformidade com a razão, na busca de uma atitude ética que só se adquire pelo exercício e pela aprendizagem, procurando evitar os extremos condenáveis, na busca de uma situação de equilíbrio que garanta não só o bem-estar pessoal como a ordem social. Assim, propõe que o indivíduo se deixe guiar pelo primado da coragem (evitando a cobardia e a temeridade), da moderação (oposta quer à devassidão, quer à apatia) e da generosidade (afastando-se seja da avareza, seja da prodigalidade). Esta procura do meio termo, se acompanhada por uma preocupação de justiça e de amizade permitirá o acesso ao soberano bem: o relacionamento fraternal entre homens livres, ou seja, a realização da essência do homem enquanto «animal político» (i. é, social).
No tocante à Política, procura não os princípios abstractos que deveriam modelar uma cidade utópica, mas esclarecer em que condições concretas pode o ser humano dar satisfação plena à sua essência social. Após analisar as constituições de várias cidades, classifica as formas de governo baseando-se em dois critérios: como justas ou injustas - dependendo da prevalência que dão ao bem comum ou aos interesses particulares dos governantes - e de acordo com o número daqueles que participam no poder - governo de um, de alguns
ou de todos. Distingue então a monarquia, a aristocracia e a "politia" (democracia moderada) da tirania, da oligarquia e da democracia, respectivamente. Embora não dê preferência a nenhuma das três formas justas de governo, reconhece que, de todas elas, a mais realizável é a "politia". Sempre sob o primado do pragmatismo, indica que devem ser preservadas tanto a família (base natural de toda a organização social) como a propriedade privada; porém, aceitou igualmente como naturais a escravatura e a desigualdade entre
os sexos.
O sistematismo que conseguiu imprimir em todas as reflexões, aliado a um enciclopedismo e a uma capacidade analítica invulgares, fez de Aristóteles um pensador ímpar em toda a história da filosofia. Durante a Escolástica, altura em que o recurso ao seu pensamento atingiu o apogeu, mereceu, por excelência, a designação de «o Filósofo». Nos domínios da metafísica e da lógica, ainda hoje se faz sentir a sua influência. Morto em 322 a. C., encerra o período clássico da filosofia grega, do qual também fazem parte Sócrates e Platão.

Obras de Aristóteles:
Conjunto preservado no Corpus editado por Andrónico de Rodes no séc. I a. C. e composto apenas de textos herméticos, ou acroamáticos, segundo SILVA, Carlos - «Aristóteles», LOGOS, Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. Lisboa: Editorial Verbo, 1992: Organon [Categorias, Da Interpretação, Primeiros Analíticos, Segundos Analíticos, Tópicos, Refutações Sofisticas]
Física, Acerca do Céu, Da Geração e da Corrupção, Meteorológicos, Tratado da Alma
Pequenos tratados biológicos e psicológicos: Dos Sentidos, Da Memória e da Reminiscência, Do Sono e da Vigília, Dos Sonhos, Da Interpretação dos Sonhos, Da Longevidade e Brevidade da Vida, Da Juventude e da Velhice, Da Vida e da Morte, Da Respiração

Grandes tratados biológicos:
História [ou Investigação Acerca] dos Animais, Acerca das Partes dos Animais, Do Movimento dos Animais, Da Geração dos Animais, Metafísica

Obras éticas e poéticas:
Ética a Nicómaco, Grande Moral, Ética a Eudemo, Política, Economia, Retórica, Poética

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