Aristóteles
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Fragaria Vesca (morangueiro Silvestre). Passada para vaso de Miguel Neto. (28.2.15) |
Filho de Nicómaco, médico de Amintas II, rei da
Macedónia, nasceu em 384 a. C. na cidade de Estagira. Tendo-se destacado
precocemente por uma argúcia invulgar, foi enviado para Atenas a fim de
concluir os estudos na Academia Platónica, onde permaneceu durante cerca de 20
anos, até à morte de Platão, de quem foi discípulo. Acreditando numa tradição
hoje duvidosa, as suas relações com aquele ter-se-iam revestido desde cedo de
alguma conflituosidade. A verdade é que o sistema aristotélico, embora
tributário da distinção matéria/forma introduzida pelo seu mestre, foi concebido,
em grande parte, como reacção ao idealismo platónico, em particular contra a
teoria das ideias e o dualismo ontológico que lhe subjaz.
Evidenciando esta oposição entre os dois
sistemas, Aristóteles fundou em 335 a. C. o Liceu, escola concorrente da Academia,
embora funcionasse de maneira diferente.
A Academia de Platão onde se ministrava o conhecimento através do método
peripatético, enquanto que Aristóteles preferia compartimentar cada área do
conhecimento.
Para Aristóteles, todo o conhecimento deve ter
como ponto de partida o mundo material, pelo que a essência das coisas não
pode, senão ilegitimamente, ser colocada numa instância transcendente, separada
da natureza. Assim, considera a substância (ousia) imanente aos próprios entes,
como um composto de matéria - enquanto elemento passivo e determinado - e forma
- elemento activo e determinante, princípio de inteligibilidade e
universalidade (hilemorfismo). Na matéria, a essência tem apenas uma expressão
virtual (ou potencial), só adquirindo «realidade» (isto é, actualidade) em
virtude da acção da forma. Com esta doutrina, além de superar a artificialidade
da cisão operada por Platão entre o mundo inteligível e o mundo sensível,
Aristóteles transpõe para o seio da própria substância toda a dinâmica do devir,
agora interpretada valorativamente.
Por considerar a substância não como algo
absoluto e estático, mas em permanente desenvolvimento, foi conduzido ao estudo
das condições em que ela se opera, tendo ficado famosa a sua teoria das causas,
que dividiu em quatro tipos: a formal («a noção» prévia, o plano da mudança), a
final («a finalidade», o objectivo da mudança), a eficiente («de onde procede»
a mudança) e a material (aquilo que muda).
No mundo, o desenvolvimento processa-se entre
dois limites: a matéria pura - ou potência pura, totalmente informe (limite
inferior); e a forma pura - acto puro, ou Deus na acepção aristotélica, o ser
por excelência, plenamente actual, causa final para o qual tudo se orienta
(limite superior).
Da metafísica se conclui que o núcleo
inteligível e universal da substância é a forma substancial, elemento que está
na origem do conceito e, assim, se constitui como objecto da ciência. Embora
reconhecendo a importância da indução no desenvolvimento do conhecimento,
Aristóteles reserva para o processo dedutivo o papel fundamental, tendo sido o
primeiro a investigar de um ponto de vista estritamente formal os princípios
gerais do raciocínio válido (verdadeiro). A Lógica, produto dessas
investigações, foi por ele considerada como um estudo preliminar (ou uma propedêutica) relativamente à filosofia,
apresentando-se pois como método (Organon) a que têm de se submeter toda a
explicação e demonstração científicas. A teoria do silogismo tornou-se o instrumento
mais perene da lógica aristotélica, tendo permanecido praticamente inalterada
até ao séc. XIX.
O silogismo é definido como «um discurso no
qual, sendo dadas determinadas premissas, uma conclusão delas distinta se
infere necessariamente».
Na sua forma mais elementar tem a seguinte
estrutura: «se a é afirmado de todo b, e b de todo c, necessariamente a é
afirmado de todo c».
O exemplo clássico de silogismo é o seguinte:
(1) Todos os homens são mortais.
(2) Sócrates é homem.
(3) Logo, Sócrates é mortal.
As proposições (1) e (2) são as premissas; a
proposição (3) é a conclusão. «Mortal» é o termo maior (predicado na conclusão)
e «Sócrates» o termo menor (sujeito na conclusão). «Homem» é o termo médio, que
surge em ambas as premissas e desaparece na conclusão.
No que respeita à Ética e à Política,
Aristóteles, espírito pragmático, afasta-se mais uma vez dos modelos ideais e
intelectualistas de Platão e considera que quer uma, quer outra têm um fim
essencialmente prático, visando promover a felicidade humana (eudemonismo). Na
esfera subjectiva, o indivíduo deve agir livre e
responsavelmente em conformidade com a razão,
na busca de uma atitude ética que só se adquire pelo exercício e pela
aprendizagem, procurando evitar os extremos condenáveis, na busca de uma
situação de equilíbrio que garanta não só o bem-estar pessoal como a ordem
social. Assim, propõe que o indivíduo se deixe guiar pelo primado da coragem
(evitando a cobardia e a temeridade), da moderação (oposta quer à devassidão,
quer à apatia) e da generosidade (afastando-se seja da avareza, seja da
prodigalidade). Esta procura do meio termo, se acompanhada por uma preocupação
de justiça e de amizade permitirá o acesso ao soberano bem: o relacionamento
fraternal entre homens livres, ou seja, a realização da essência do homem
enquanto «animal político» (i. é, social).
No tocante à Política, procura não os
princípios abstractos que deveriam modelar uma cidade utópica, mas esclarecer
em que condições concretas pode o ser humano dar satisfação plena à sua
essência social. Após analisar as constituições de várias cidades, classifica
as formas de governo baseando-se em dois critérios: como justas ou injustas -
dependendo da prevalência que dão ao bem comum ou aos interesses particulares
dos governantes - e de acordo com o número daqueles que participam no poder -
governo de um, de alguns
ou de todos. Distingue então a monarquia, a
aristocracia e a "politia" (democracia moderada) da tirania, da
oligarquia e da democracia, respectivamente. Embora não dê preferência a
nenhuma das três formas justas de governo, reconhece que, de todas elas, a mais
realizável é a "politia". Sempre sob o primado do pragmatismo, indica
que devem ser preservadas tanto a família (base natural de toda a organização
social) como a propriedade privada; porém, aceitou igualmente como naturais a
escravatura e a desigualdade entre
os sexos.
O sistematismo que conseguiu imprimir em todas
as reflexões, aliado a um enciclopedismo e a uma capacidade analítica
invulgares, fez de Aristóteles um pensador ímpar em toda a história da filosofia.
Durante a Escolástica, altura em que o recurso ao seu pensamento atingiu o
apogeu, mereceu, por excelência, a designação de «o Filósofo». Nos domínios da
metafísica e da lógica, ainda hoje se faz sentir a sua influência. Morto em 322
a. C., encerra o período clássico da filosofia grega, do qual também fazem
parte Sócrates e Platão.
Obras de Aristóteles:
Conjunto preservado no Corpus editado por
Andrónico de Rodes no séc. I a. C. e composto apenas de textos herméticos, ou
acroamáticos, segundo SILVA, Carlos - «Aristóteles», LOGOS, Enciclopédia
Luso-Brasileira de Filosofia. Lisboa: Editorial Verbo, 1992: Organon
[Categorias, Da Interpretação, Primeiros Analíticos, Segundos Analíticos,
Tópicos, Refutações Sofisticas]
Física, Acerca do Céu, Da Geração e da Corrupção,
Meteorológicos, Tratado da Alma
Pequenos tratados biológicos e psicológicos:
Dos Sentidos, Da Memória e da Reminiscência, Do Sono e da Vigília, Dos Sonhos,
Da Interpretação dos Sonhos, Da Longevidade e Brevidade da Vida, Da Juventude e
da Velhice, Da Vida e da Morte, Da Respiração
Grandes tratados biológicos:
História [ou Investigação Acerca] dos Animais,
Acerca das Partes dos Animais, Do Movimento dos Animais, Da Geração dos
Animais, Metafísica
Obras éticas e poéticas:
Ética a Nicómaco, Grande Moral, Ética a Eudemo,
Política, Economia, Retórica, Poética
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