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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

só porque é Outono?

van gogh

todos recolheram. os quintais andaram cheios, desde a Primavera até ao final do Verão. Churrascos, convidados, serões.
crianças na piscina, donas de casa a compor os jardins e um golo na garrafa de cerveja ao ar livre para pôr um ponto final no dia de trabalho.
Montaram-se mesas, recantos de leitura, por cima ficaram tendas e chapéus de sol.


Mas agora já ninguém me acompanha enquanto trato as minhas árvores. não vejo o casal de manhã a tomar o pequeno-almoço. e à noite já não se ouvem mais conversas. ás vezes é um outro casal que tem um gato e dois cães que vem fumar um cigarro ao frio.

De manhã vejo se há alguma árvore a precisar de rega e calculo qual precisará de água ao final do dia. trago um café e aqueço o corpo com os raios de sol longiquos. olho o mar, a ria e respiro fundo. não vejo ninguém de manhã, com excepção para o jardineiro do vizinho, que não é jardineiro. já reparei que é um daqueles emigrantes de leste, que conseguem fazer um pouco de tudo. ás vezes faz-me lembrar aquelas perguntas de primeiro dia de aulas na universidade: "o que é mais importante: saber muito de pouco ou pouco de muito". bem... parece que depende.

à noite não se ouvem pessoas. levo um chá, ás vezes um cigarro ou um café. tudo muito quente, para poder sentir o contraste com o frio que me gela a face e os nós dos dedos. nessa altura deixo as mãos em volta da chávena. olho as minhas princesas. gosto de observá-las confortáveis no calor da casa e do carinho. penso nelas. penso em como são importantes para mim. não penso necessariamente no que há a fazer amanhã, simplesmente sinto-as, estudo o que estão a fazer, percebo se lhes falta alguma coisa. regresso às árvores. normalmente não falho, pois notei o solo pela manhã. já sei quais as que necessitam de água. nenhum som me chama particular atenção. não há ninguém. só o latir de um cão, ás vezes alguém a terminar de arrumar a cozinha. ao fim-de-semana os golos dos adeptos de café. estudo uma árvore ou outra, faço planos... e contas ao tempo. dou o ultimo golpe na bebida quente ou apago o cigarro. olho as árvores da rua, a lua, o ceu. a ria e o mar quando a lua está grande. despeço-me das luzes e nao compreendo porque abandonam o Outono e o Inverno. estações tão bonitas que deixamos ao frio e ao abandono. precisam certamente de um bonsai, que vos devolva a admiração por cada estação da Natureza.

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