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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O homem que fala com as árvores

Mihai olteanu (oil)

as árvores lembravam-se, desde o primeiro dia de sol de primavera. só lhe viram a pequena face rosada, entre os lençois imaculados e as mantas azuis. sempre cruzou aquele parque. não todos os dias, mas em todas as estações. era dali. e quando somos de algum lugar, normalmente não nos perdemos. encontramo-nos. começaram a falar, quando subiu a uma árvore para escapar ao ogre que reinava no parque. a árvore pediu que não se suportasse nos galhos verdes. Perguntou porquê, a árvore respondeu que se os poupasse, depois poderia recolher os seus frutos. convidou-o a esconder-se, num buraco que tinha na sua base. Deixou que o miúdo lá estabelece-se o seu quartel-general. venceram o Ogre do parque. A árvore teve pena, pois no ano seguinte o rapaz já não tinha ogre para combater. as suas aventuras eram outras. Normalmente trazia outros rapazes, que tiveram de aprender a respeitá-la. Ainda mandou um ou dois reguilas abaixo. Mas só os assustou. foi uma queda e tanto. O suficiente para aprenderem umas lições. Dois anos mais tarde, trouxe uma rapariga para cada mês de Primavera. A árvore não apreciou nenhuma. Não percebiam nada da natureza e tinham medo que se pelavam das amigas abelhas e aranhas. A última desmaiou, a árvore tinha convocado um exército de aranhas e uma osga. O rapaz não ficou nada satisfeito com a árvore. Conversaram e acertaram limites. nada de raparigas e juras de amor debaixo da copa. Mas para o que fosse necessário a árvore estaria ali. Acabou por se orgulhar da marca que o rapaz deixou no tronco J+M=L, rodeado por um coração. Bem no fim do Outono.Anos mais tarde o rapaz, que falava com as árvores, passou pelo parque. Apresento-te o meu filho. E lá estava outro pequeno, rosado, tal qual o Pai há uns anos atrás. A árvore ganhou mais uma curva no tronco, para se meter com o bébé. Passado um tempo de conversa a criança começou a chorar. o pai embalou o carrinho. Sem bons resultados, o pranto aumentava. a árvore perguntou-lhe porque não o embalava ao colo, junto do seu corpo. O jovem respondeu que era melhor não o habituar ao colo. e a árvore perguntou se ele tinha a certeza que habituar uma criança ao mais puro afecto era mau. e para quem era mau? perguntou. Aos quatros anos, esse pequenino já não vai querer colo à frente de amigos. e aos seis já nao vai querer colo. se lhe deres a certeza agora, que tu és o seu lugar, voltará aos teus braços quando mais precisar. Tivesse eu braços, para todas as minhas sementes. Anda meu rapaz, mima esse bébé sem medo, sem egoísmos, o parque agora é dele.





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