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quarta-feira, 12 de junho de 2013

Pontes cruzadas


O cérebro... o sistema nervoso, o sistema nervoso central e o periférico....           ..... e o corpo. O cérebro e o corpo. E a palavra que ninguém conhece, nem há, mas que junta cérebro e corpo num só elemento, num só significado e penso que pessoa e humano não será suficiente. Porque corpo e cérebro têm uma relação dialéctica. Assim como as raízes de uma árvore têm com as suas folhas. de cima para baixo e de baixo para cima.

O cérebro é um órgão que apresenta aquilo que pode ser a realidade, mas não é necessariamente a realidade real. É a realidade real mais a realidade do organismo... e a realidade é também a consciência de Si. com o intuito de fazer agir o corpo nessa realidade e manter-se vivo... ou manterem-se vivos. Tem abstracção e a consciência de si, 'o sentimento de si'. Chegou ao cúmulo de ser o único órgão no universo a estudar-se a si próprio. Estudando-se conscientemente.


  As árvores apanham sol, fazem a fotossíntese, elevam a água desde o solo até metros de altura a perder de vista. Optaram pela não-acção e todos os dias agem... fazem crescer ramos... mesmo que partidos, cortados ou infectados... recuperam de alguma forma o seu equílibrio. Ficarão as mesmas árvores? Dependerá da extensão da mudança.

Os neurónios ramificam-se... mas até certo ponto, até certa altura, até certa fase, quando morrem não mais se regeneram. Mas encontram outros caminhos... outras sinapses... encontram outros equílibrios. Continuamos a mesma pessoa? Não sei, há uma permanência, uma identidade, um 'si'. Mas tudo dependerá da extensão da mudança.

Numa primeira aula de eto-ecologia perguntaram-me o que é mais evoluído? o homem, a galinha ou a árvore? Haverão muitas respostas certas, mas a evolução trouxe-nos até aqui, vivos e adaptados... ninguém ganhou.
A complexidade deve servir em primeiro lugar para nos acalmar, pois há alguém a dizer-nos como estamos no que está à nossa volta.

Fazer crescer novos ramos e resgatar novos caminhos. Talvez possa ser só isso o nosso dia-a-dia... mas não é.

"(...) Mas permaneci afastado. O drama das situações em que a lesão do cérebro provoca coma ou estado vegetativo, as situações em que a consciência fica mais radicalmente alterada são acontecimentos que, se me tivesse sido permitido escolher, teria preferido não observar. Poucas coisas são tão difíceis de testemunhar como o desaparecimento súbito e forçado da mente consciente numa pessoa que se mantém viva e poucas coisas são tão dolorosas de explicar a uma família como esse desaparecimento. (...) que a consciência perdida poderá nunca mais ser recuperada?" In Sentimento de Si, António Damásio (2000)






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