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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

há movimentos comuns, banais. Estão normalmente associados a tarefas igualmente usuais. Não lhes atribuimos especial valor, a menos que por qualquer infelicidade longiqua, percamos essa capacidade de executar, fazer, criar.

é de manhã. Os raios de sol invandem envergonhados a parede vazia da cozinha e parte da tijoleira. O vento estremece lentamente as folhas que restiram ao Outono e Inverno.  Lava a loiça que serviu o jantar e a ceia do serão. Uma daquelas tarefas repetitivas, quase inoquas de saber. de costas viradas para o restante vazio da cozinha, com os olhos perdidos no escoar da água. Ligeiramente curvado sobre o lava loiça, só as mãos e braços asseguram o bailado de pratos e copos. mas nao está triste. esta pobre dança faz parte do cuidar.
ouve passos arrastados a entrar. Vêm ainda carregados de noite. Não se pode voltar no imediato, tem tarefa em mãos.
-bom dia.
e sente os seus lábios a confundirem-se com o seu pescoço. Depois um abraço a dizer: Ainda bem que estás aqui.
atrás de si pequenitos e enérgicos passos, com vontade de dar a volta ao mundo. São as crianças.
de repente a cozinha ficou cheia. só agora é de manhã. contam-se pedidos, perdem-se recados, mas a luz da manhã fria não os acelera.
entram depois as três, armadas de pincéis, carregadas de tintas, folhas e telas Preparam um pequeno atelier, ali junto ele que coloca a escorrer o ultimo prato.
endireita as suas costas e volta-as para as olhar, para as observar. Cruza os seus braços, encosta-se à bancada de granito e deixa-se inundar de sorrisos, de movimentos delicados, que não sendo totalmente diferentes na sua base, são extraordinariamente sofisticados no seu final. quando o pincel se mistura com os seus dedos delicados e bailam suavemente pela folha contando histórias, deixando mensagens, ritmos e emoções tudo ganha um valor inestimável. Ele sabe que dentro deste circulo, deste núcleo, desta energia, tudo vale a pena e só deseja poder dar mais e melhor.



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