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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Varrida pelo vento

Aguarela de Fernando Tordo
Passou por aí um vento. E continua a passar. Levou-me primeiro as folhas, que criei nos sonhos de Abril. Levantou-se este vento. Que continua a passar. Com um sopro levou os frutos do meu trabalho suado de Verão. Deu-me em troca a sede. Apenas passou ao de leve, com mãos invisíveis. Deixou-me nua. Deseja-me nua. Embala-me suavemente. E depois arrefecendo, adormece-me de frio. E continua a passar, já sem resistência da folhagem verde. Vai roubando a casca, magoando a madeira. E lá vão cedendo. Vão-se ajoelhando, nuas, ao frio, à sede, à fome. E quando já o vento tiver passado, voltamo-nos a erguer do chão, todas juntas.

O pior, é que todas nós, voltaremos a esquecer o que em Abril se passou e outras correntes de ar voltarão. Direi novamente... que passou por aí um vento. E continua a passar.

Só peço a este vento, que na volta que dá ao mundo, ao menos, me traga as raízes de volta.









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