sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Setembro
Depois de vos adormecer, encho um copo com café. Puxo lume a uma cigarrilha, sento-me aguentando o bom peso dos dias. Curvo-me devagar até os cotovelos descansarem nos joelhos, sem perder de vista o nascer do sol. Porque com o sol acordam todas as minhas flores.
Esvazio os pulmões, mas não os pensamentos. Estes só abrandam, para que possa senti-los um de cada vez. Sigo o fumo com o olhar, como as gentes do metropolitano, a maioria entra e a outra parte sai, a minoria sai, a maioria entra. No fim de cada expiração, tudo fica vazio e só estou eu a olhar de longe à procura de quem possa seguir.
No amanhecer de Setembro, muda o ano. E novos meandros estão desenhados no rio. É hora de escolher, de planear e de arrancar rio a fora.
Setembro é o sentir da inércia que nos prende, com a força que nos empurra para disparar. É o zero. É o novo início.
Setembro é o imaginar das novas aventuras e dos novos medos. Das novas amizades, das novas paixões.
Setembro é sentir que estamos de partida, portanto é a certeza de que temos um porto, um sítio. Uma companhia, uma tripulação, uma família.
Senão houvesse família, certamente não haveria Setembro. E não haveria fumo porque não tinha havido o fogo na cigarrilha.
Senão houvesse Setembro, não via este amanhecer, com um copo de café quente e uma cigarrilha entre os dedos.
Senão houvesse Setembro, não acordavam as flores.
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